segunda-feira, 14 de março de 2011

A história do Necronomicon

Breve, porém completo resumo da história deste livro, de seu autor, de diversas traduções e edições desde sua redação (no ano de 730) até os dias atuais.

Edição comemorativa a cargo de Wilson H. Shepherd, The Rebel Press, Oakman, Alabama.
O título original era “Al-Azif”. Azif era o termo utilizado pelos árabes para designar o ruído noturno (produzido pelos insetos) que, supunha-se, era o murmúrio dos demônios. Escrito por Abdul Al Hazred (figura acima), um poeta louco de Sana, fugido no Iêmen, na época dos califas Olmeias, pelo ano de 700.

Visita as ruínas da Babilônia, e os subterrâneos secretos de Mênfis, e passa dez anos sozinho no grande deserto que se estende ao sul da Arábia, o Roba el-Khaliyeh, o “Espaço vital” dos antigos e o Dahna, “O deserto Rubro” dos árabes modernos. Afirma-se que este deserto é habitado por espíritos malignos e por monstros tenebrosos. Os que afirmam haver penetrado em suas regiões contam coisas estranhas e sobrenaturais.

A profecia maia

O mundo vai acabar no dia 21 de dezembro de 2012! Esta data foi estabelecida no calendário Maia, que principia a contagem do tempo em 11 de agosto do ano 3114 a.C., ou seja, antes mesmo das datações arqueológicas desta misteriosa civilização. De acordo com aquelas datações, os maias floresceram entre 1800 a.C. e 1450 d.C. em um vasto território que inclui regiões da América Central e América do Sul, onde a ruínas de suas cidades e pirâmides monumentais resistem ao tempo.
Os Maias são reconhecidos por seu avançado conhecimento de astronomia e pela precisão de seus diferentes calendários, como o calendário anual, solar, com 365 dias, chamado Haab. Outro destes calendários, o de 'Longa Contagem', foi desenvolvido para computar extensos períodos de tempo ou ciclos, de 5.125 anos.

Foi com base naquele calendário do longos ciclos que se estabeleceu a tradição da profecia maia do fim dos tempos. Os astrônomos desta singular cultura pré-colombiana previram para 2012 atividades cósmicas impactantes para o planeta Terra. Quando chegar esta época, o Sol deverá sofrer violentas tempestades emitindo poderosas chamas e partículas cuja potência alcançará este planeta azul causando o colapso de campos de campos magnéticos que certamente produzirão danos nos satélites e outros dispositivos eletrônicos.

Esta violenta atividade solar é confirmada por astrofísicos, incluindo os da NASA que, não obstante, negam que tal acontecimento possa significar algum tipo de fim do mundo. Segundo os cientistas, as tempestades solares intensas que, de fato, são periódicas, estão previstas para acontecer entre 2011 e 2012. Outros estudioso, porém, acreditam que a atividade do solar, em 2012, também vai provocar uma mudança significativa na inclinação do eixo da Terra produzindo, em conseqüência, atividades geológicas de proporções catastróficas, o que justificaria a idéia de um fim dos tempos.

O demônio da Tanoaria

Arthur Conan Doyle
Não foi coisa fácil trazer o "Gamecock" até a ilha, porque o rio arrastara tanta lama que os bancos se estendiam muitas milhas pelo Atlântico a dentro. A costa ainda mal se via quando a primeira linha branca de arrebentação nos preveniu do perigo, e desse ponto em diante avançamos com muito cuidado com a vela grande e a bujarrona, conservando a arrebentação da água bem para a esquerda, como estava indicado na carta.
Mais de uma vez a quilha tocou na areia (estávamos calando um pouco mais de seis pés, naquela ocasião) mas tivemos sempre jeito e porte para passar. Finalmente, a água encheu-se rapidamente de bancos, mas tinham mandado uma canoa da feitoria e o piloto Krooboy levou-nos até uma distância de duzentas jardas da ilha.

Aí lançamos ferro, porque os gestos do negro indicavam que não podíamos esperar avançar mais. O azul do mar mudara para o castanho do rio e mesmo ao abrigo da ilha a corrente cantava e remoinhava em volta da nossa proa. A maré parecia estar cheia porque passava acima das raízes das palmeiras e, por todos os lados, sobre sua superfície barrenta e oleosa podíamos ver pedaços de madeira e destroços de toda espécie que tinham sido arrastados pela enxurrada.

Quando me certifiquei de que estávamos firmes em nossa ancoragem, pensei que era melhor começar a tomar água imediatamente, porque o lugar parecia inquinado de febres. O rio denso, os bancos lamacentos e lodosos, o verde brilhante e venenoso da mata, o vapor úmido no ar, eram outros tantos sinais para quem soubesse lê-os. Mandei portanto arriar o escaler com dois grandes odres, que seriam suficientes para durar até chegarmos a São Paulo de Loanda. Quanto a mim, tomei o bote pequeno e remei para a ilha, porque podia ver a bandeira inglesa flutuando acima das palmeiras para marcar a posição do entreposto comercial de Armitage & Wilson.

A mão do hindu

Todos sabem que Sir Dominick Holden, o famoso cirurgião da Índia, fez-me seu herdeiro, e, desse modo, transformou um médico pobre num opulento proprietário. Muitos, também, sabem que, pelo menos, cinco pessoas se atravessaram em meu caminho, por julgarem a escolha de Sir Holden arbitrária ou caprichosa.
A estas, posso assegurar que estão redondamente enganadas e que, embora eu conhecesse Sir Holden apenas nos últimos tempos de sua vida, ninguém fez mais por lhe merecer a estima. Posso, mesmo, afirmar que, em toda sua vida, ninguém fez mais por ele. Não pretendo que aceitem a minha afirmativa, nem que creiam no que vou contar; parece obra de pura imaginação; mas, como me sinto no dever de contá-la, aqui a ponho, quer me creiam, quer não.

Sir Dominick Holden foi o mais notável cirurgião da Índia, no seu tempo. Começou no Exército mas, depois, estabeleceu-se, como particular, em Bombaim, donde era clamado para todos os pontos da Índia. 
 
Seu nome está muito ligado ao Hospital Oriental, por ele fundado e mantido. Tempo veio, entretanto, em que a sua constituição de ferro começou a dar sinais de cansaço, fazendo com que seus colegas (talvez não desinteressadamente) unânimes em aconselhá-lo a voltar à Inglaterra. Sir Holden resistiu quanto pôde, até que seu estado se agravou e ele ressurgiu em Londres, alquebrado, em busca de Wiltshíre, sua terra de nascimento. Lá, adquiriu uma grande propriedade, na fímbria da Alisbury Plain, e consagrou seus últimos anos ao estudo da Anatomia Comparada, que era sua vocação e na qual se tornara autoridade Mundial.

O espírito


O caso que vou contar passou-se há um bom par de anos, quando no Rio de Janeiro o espiritismo não tinha ainda o caráter de seriedade nem os ilustres prosélitos que hoje tem, mas começava a ocupar a atenção e a roubar o tempo a algumas pessoas de boa fé.

Entre essas figurava o Garcia, bom homem, cujo único defeito era ser fraco de inteligência, defeito que todos lhe perdoavam por não ser culpa dele.

O nosso herói não se empregava absolutamente noutra coisa que não fosse comer, beber, dormir e trocar as pernas pela cidade. Tinha herdado dos pais o suficiente para levar essa vida folgada e milagrosa, e só gastava o rendimento do seu patrimônio.

Casara-se com d. Laura que, não sendo formosa que o inquietasse, nem feia que lhe repugnasse, era mais inteligente e instruída que ele. Esta superioridade dava-lhe certo ascendente, de que ela usava e abusava no lar doméstico, onde só a sua vontade e a sua opinião prevaleciam sempre.

O Garcia não se revoltava contra a passividade a que era submetido pela mulher: reconhecia que d. Laura tinha sobre ele grandes vantagens intelectuais e, se era honesta e fiel aos seus deveres conjugais, que lhe importava a ele o resto?

O espectro

— Olhe cá, ouça!

Quando falou assim a voz que o chamava, estava de pé, à porta de sua casinha, empunhando a bandeirola, que conservava enrolada no pauzinho que desempenhava as funções de haste.

Era tal a configuração do terreno que não parecia possível que pudesse ter dúvida sobre a procedência da minha voz.

Contudo o homem, longe de erguer os olhos para o lugar em que me achava, à borda da trincheira, precisamente sobre a sua cabeça, deu meia volta e olhou em direção à vila.

— Olhe cá, ouça!

Só então deixou de esquadrinhar a linha. Girou de novo sobre os calcanhares e deitando a cabeça para trás distinguiu-me por cima do seu observatório.

— Há algum caminho que me permita descer até aí para travarmos conversação um pouco mais de perto?

Houve uma pausa, então. O homem examinava-me com profunda atenção. Por fim, apontou-me com a bandeirola um ponto situado a duzentas ou trezentas toesas à esquerda.

— “All right!” Muito bem! — exclamei.

E dirigi-me ao lugar indicado. Lá, depois de muito olhar em torno de mim, descobri um estreito caminho, toscamente talhado em ziguezague e comecei a segui-lo.

Bruxas e histórias de assombração

Contou-me um narrador de histórias de assombrações, que um casal jovem depois de um ano de feliz matrimônio, ganhou uma linda criança, a qual ao completar cinco anos, adoeceu. O sintoma da doença era o seguinte: as mãos cruzadas sobre o peito, o corpo manchado de roxo e ao anoitecer desatava num choro que metia dó, principalmente nas sextas-feiras.
Pessoas idosas, entendidas em doenças de bruxarias, quando viram aquela criança no estado lastimável em que se encontrava não tiveram dúvidas em afirmar aos pais, que todos aqueles sintomas eram, verdadeiramente, a confirmação de que as malvadas bruxas a estavam perseguindo.

Uma daquelas pessoas entendidas em assuntos bruxólicos aconselhou ao jovem pai que devia procurar uma benzedeira e não um médico, como queria a mãe da criança, pois este não entenderia nada daquela doença causada pelas forças misteriosas das terríveis mulheres que vêm a este mundo com a triste sina de ser bruxa.

No sítio, a conselho das pessoas mais velhas que são acatados com todo respeito, o casal resolveu chamar uma velha benzedeira, muito afamada na cura de crianças embruxadas.

A velha benzedeira, ao entrar na casa e pôr as vistas sobre a criança doente, desatou a bocejar tanto, que quase ficou sem poder falar por muitos minutos, mas logo que se recuperou, voltou-se para o casal e disse-lhes: "Esta criança está embruxada por bruxas muitos perigosas, de grandes poderes diabólicos. Recebi toda carga do seu poder maligno, no meu corpo, logo que entrei nesta casa, para enxotá-la daqui".

Assombrações de agosto

Gabriel García Márquez
Chegamos a Arezzo pouco antes do meio-dia, e perdemos mais de duas horas buscando o castelo renascentista que o escritor venezuelano Miguel Otero Silva havia comprado naquele rincão idílico da planície toscana.
Era um domingo de princípios de agosto, ardente e buliçoso, e não era fácil encontrar alguém que soubesse alguma coisa nas ruas abarrotadas de turistas.

Após muitas tentativas inúteis voltamos ao automóvel, abandonamos a cidade por uma trilha de ciprestes sem indicações viárias, e uma velha pastora de gansos indicou-nos com precisão onde estava o castelo. Antes de se despedir, perguntou-nos se pensávamos dormir por lá, e respondemos, pois era o que tínhamos planejado, que só íamos almoçar.

- Ainda bem - disse ela -, porque a casa é assombrada.

Minha esposa e eu, que não acreditamos em aparições de meio-dia, debochamos de sua credulidade. Mas nossos dois filhos, de nove e sete anos, ficaram alvoroçados com a idéia de conhecer um fantasma em pessoa.

Miguel Otero Silva, que além de bom escritor era um anfitrião esplêndido e um comilão refinado, nos esperava com um almoço de nunca esquecer. Como havia ficado tarde não tivemos tempo de conhecer o interior do castelo antes de sentarmos à mesa, mas seu aspecto visto de fora não tinha nada de pavoroso, e qualquer inquietação se dissipava com a visão completa da cidade vista do terraço florido onde almoçávamos.

Uma história horripilante


O capitão Miguel tinha apenas um braço, que lhe servia para ajeitar seu cachimbo. Era um velho lobo do mar, que conheci em Toulon, junto com outros marujos inveterados, numa tarde, tomando um aperitivo no terraço de um café do Dique Velho.

Adquirimos o costume de nos reunir, próximos das taças, das águas alvoroçadas e das lanchas dançarinas, à hora em que o sol se põe na baía de Tamaris.

Os outros quatro velhos lobos do mar se chamavam Zinzin, Dorat - o capitão Dorat-, Bagatela e Chaulieu - aquele vagabundo do Chaulieu. Nem é preciso contar que tinham navegado por todos os mares e que haviam vivido mil aventuras, mas agora, aposentados, matavam o tempo contando histórias horripilantes uns aos outros.

O capitão Miguel era o único que nunca contava coisa alguma e, como o que ouvia não lhe causava nenhum assombro, acabou por exasperar os outros:

- Capitão Miguel, pelo visto nunca lhe aconteceu nenhuma aventura horripilante?

Balanço bruxólico


"Contou-me a seguinte estória acontecida na Ilha de Santa Catarina - Ilha dos trezentos engenhos de fabricar farinha de mandioca - o Sr. José Silveira residente no Canto da Lagoa da Conceição: que seus antepassados fizeram uma derrubada no Morro da Lagoa prá mode fazerem uma plantação de mandioca e milho.

Aconteceu - continuou o narrador - que na margem da roça derrubaram um grande tanheiro, bem vazado, que ficou caído ao pé de uma grande árvore que tinha em si um cipó enroscado e que de lá do alto das ramagens deixava cair um grande seio em forma de balanço.

Quando começaram a fazer a plantação, sentiram cheiro de fumaça de querosene, que saía de dentro do vazado do tanheiro, e também porque ali faziam a comida, notaram que as panelas amanheciam sujas e as ferramentas atiradas pelo chão, como se alguém dentro da noite lá aparecesse somente para fazer malvadezas.

Desconfiados com a situação, passaram a vigiar o lugar e constataram que dentro da noite a ramagem da árvore que tinha o balanço, era tomado por luzes de várias formas e tamanhos e que se movimentavam para direções diversas.

Encorajados por uma mulher benzedeira muito entendida e poderosa destas coisas dos outros mundos, subiram o morro protegidos com bentinhos, breves, figas, mostarda, arruda, cisco das três marés, água benta, vela benta, folhas de guiné, que são verdadeiras armas contra o poder diabólico destes trasgos dos infernos.

O que encontraram e viram era horripilante para os olhos humanos. As árvores tinham na base formas de pés de vários animais, lamparinas dançavam metamorfoseadas em forma humana; na boca do tanheiro derrubado estava um bicho em forma de morcego; no alto da árvore a canga do carro de boi estava pousada, ao lado de uma lamparina; um pouco abaixo uma coruja com cara de roda de carro de boi enfeitada com um par de antolhos; e no centro de tudo, de toda fantasmogênese uma bruxa se balançava no cipó fantasiada de cabeça de boi com pernas traseiras e mãos dianteiras, também de boi, e sendo a cabeça uma roda de carro de boi.

Todas as pedras que ali viviam estavam metamorfoseadas em atitude de exorcismo.

A coruja que aparece metamorfoseada no meio da árvore, se destaca como um observador cultural, deste tipo de cultura que o Povo antigo conduz em sua bagagem tradicional ..."


Franklin Joaquim Cascaes (São José, 16 de outubro de 1908 — Florianópolis, 15 de março de 1983), pesquisador da cultura açoriana, folclorista, ceramista, gravurista e escritor brasileiro. Dedicou sua vida ao estudo da cultura açoriana na Ilha de Santa Catarina e região, incluindo aspectos folclóricos, culturais, suas lendas e superstições. Usou uma linguagem fonética para retratar a fala do povo no cotidiano. Seu trabalho somente passou a ser divulgado em 1974, quando tinha 54 anos. Obras: Balanço bruxólico; Nossa Senhora, o linguado e o siri, A Bruxa metamorfoseou o sapato, Balé das mulheres bruxas, Mulheres bruxas atacando cavalos, O Boitatá, Mulheres dando nós em caudas e crinas de cavalos.

História de assombração

Há muitos anos passados – contou-me um narrador de histórias de assombrações – num lugarejo da ilha de Santa Catarina, morava um pescador que possuía várias embarcações para o serviço da pesca, inclusive uma lancha baleeira.
Homem trabalhador e cuidadoso que era, tratava com todo carinho suas embarcações e equipamento, os quais guardava num rancho bem construído e fechado à chave.

Certa manhã de uma sexta-feira, quando o pescador, junto com seus camaradas abriu o rancho para retirar as embarcações, encontrou a lancha baleeira molhada e com muita areia espalhada sobre o fundo o que causou surpresa a toda tripulação, pois tinham deixado enxuta e limpa quando na véspera a recolheram para o rancho.

Comentado e analisado o fato, eles chegaram à conclusão de que a maré naquela noite tinha sido alta e não encontraram nenhuma pegada de pessoa, na praia, portanto, não havia razão para suspeitarem que alguém tivesse tirado a lancha do rancho, mesmo porque ele estava fechado e a chave se encontrava em poder do seu dono.

Nossa Senhora, o linguado e o siri


"Conta a estória que certa ocasião Nossa Senhora precisou atravessar o mar, mas não tinha certeza se a maré iria encher ou vasar.

Estava parada na praia; praia esta que deveria ser no continente, mas ela queria passar para a mais bela ilha da terra, a Ilha de Santa Catarina, quando surgiu um bonito linguado nadando alí perto dela.

Com toda sua beleza e ternura celestial, dirigiu-se ao peixe linguado, indagando-lhe se sabia ou não se a maré ia encher ou vasar.

O linguado respondeu a pergunta da Senhora, remedando-a. Ficou com a boca torta.

Um siri que havia escutado a indagação da Senhora e a deseducada resposta do linguado, dirigiu-se a ela com toda educação sirinesca, e lhe ofereceu uma carona até a praia onde ela queria alcançar.

Afirma a estória que o resultado deste acontecimento lendário é o seguinte: o linguado ficou com a boca deformada. No casco do siri se observa, em baixo relevo, a figura de uma senhora segurando os lados da saia, para não molhá-la. Deve ser o retrato de Nossa Senhora, num ato celestial sublime de sincero agradecimento, pela atitude hospitaleira do frágil crustáceo".

Franklin Joaquim Cascaes (São José, 16 de outubro de 1908 — Florianópolis, 15 de março de 1983), pesquisador da cultura açoriana, folclorista, ceramista, gravurista e escritor brasileiro. Dedicou sua vida ao estudo da cultura açoriana na Ilha de Santa Catarina e região, incluindo aspectos folclóricos, culturais, suas lendas e superstições. Usou uma linguagem fonética para retratar a fala do povo no cotidiano. Seu trabalho somente passou a ser divulgado em 1974, quando tinha 54 anos. Obras: Balanço bruxólico; Nossa Senhora, o linguado e o siri, A Bruxa metamorfoseou o sapato, Balé das mulheres bruxas, Mulheres bruxas atacando cavalos, O Boitatá, Mulheres dando nós em caudas e crinas de cavalos.

A bruxa metamorfoseou o sapato

O Sabinano da Ponta das Canas, tinha uma filhinha embruxada, que até metia dó à própria bruxa que a vinha sacrificando há muitos meses. Aconselhado por amigos, ele passou a tratar a criança com um benzedor que morava na praia dos Ingleses.
O benzedor chamava-se Sotero das Capivaras e era um famoso curador de doenças dos outros mundos. Mas o tratamento que ele vinha aplicando para a criança do Sabiano não estava a produzir resultados satisfatórios.

O dia marcado para ele voltar a casa do benzedor foi uma sexta-feira.

De manhã bem cedo, o Sabiano levantou-se arrumou o gado no potreiro, tomou cafe, lavou os pés na gamela promode os havia sujado, enxugou-os, e pediu à mulher que lhe apanhasse os sapatos que estavam pendurados nos caibrosdo telhado da varanda.

Bruxas metamorfoseadas em bois

O Policarpo Estevo possuía, para seu trabalho de lavoura, um carro de bois muito bem feito e duas juntas de bois, uma malhada e outra rosilha, domados para carro e engenhj. Na época de colonização da Ilha de Santa Catarina pelos açorianos - em 1748 - já um pouco avançado em anos, o carro de bois era o veículo que servia para o transporte de casamentos, batizados, passeios, mudanças, enterros e também para transporte de mandioca, cana-de-açúcar e lenha para os engenhos de fabricar farinha de mandioca, açúcar e também para os alambiques.

Numa manhã de sol ilhéu muito claro, bateram palma no terreiro da casa do Estevo, que ficava na Ponta das Pedras, atualmente Morro das Pedras, parte sul da Ilha de Santa Catarina.

Estevo atendeu prontamente. Era o Zé Jão Santa Cruz, morador da vargem do Queitaninho, um famoso médico curandeiro, natural de antanho, da Ilha de Santa Catarina, e que pensava em mudar-se para a Ponta das Pedras.

O Zé Jão nasceu numa Sexta-Feira Santa às 18:00 horas do dia, sob as vistas vigilantes da parteira aparadeira, a Sinhá Larica, da Praia Mole.

A madame História popular previne que, quando uma criança nasce na Sexta-Feira Santa, deve-se apanhar um grilo verde, colocá-lo dentro da mão esquerda dela e apertá-la até o bichinho morrer. Este cuidado, a parteira Larica cumpriu, e o Zé Jão tornou-se o maior médico curandeiro milagreiro da Vila do Desterro.

Comunicação telebruxólica

"Mulheres bruxas terrículas e selenitas comunicando-se da terra para a lua e vice-versa, sentadas sobre os famosos elementos representantes da superstição através de linhas telefônicas cósmicas, transcendentais, colocadas em postes aéreos sobre satélites, que também se beneficiam do serviço telebruxólico." (F. Cascaes, 1970)


Franklin Joaquim Cascaes (São José, 16 de outubro de 1908 — Florianópolis, 15 de março de 1983), pesquisador da cultura açoriana, folclorista, ceramista, gravurista e escritor brasileiro. Dedicou sua vida ao estudo da cultura açoriana na Ilha de Santa Catarina e região, incluindo aspectos folclóricos, culturais, suas lendas e superstições. Usou uma linguagem fonética para retratar a fala do povo no cotidiano. Seu trabalho somente passou a ser divulgado em 1974, quando tinha 54 anos. Obras: Balanço bruxólico; Nossa Senhora, o linguado e o siri, A Bruxa metamorfoseou o sapato, Balé das mulheres bruxas, Mulheres bruxas atacando cavalos, O Boitatá, Mulheres dando nós em caudas e crinas de cavalos.

Balé de mulheres bruxas

Depois de haverem chupado muito sangue de inocentes criancinhas, sem serem molestadas por benzedeiras, armadilhas e outros, esta caterva de mulheres resolveram comemorar a vitória diabólica, com uma dança de balé bruxólico no Morro do rapa no exremo norte da Ilha de Santa Catarina, sobre a batta rubra do ex-anjo Lúcifer.
Afirma a Madame Estória, que as mulheres bruxas possuem uma inteligência excepcional, a qual elas usam sempre para ludibriar o homem de argila humana crua.

Por isto, elas vivem às turras com benzedores, armadilhas e outros, desde os séculos dos séculos.

Madame Est'toria vê,
O sinistro Lucifer
Bispando o lote de bruxas,
Que está dançando balé.

Após haverem chupado
Muito sangue de criança,
Estas bruxas elegantes,
urdiram esta Festança.

O balé que elas usam.
É o balé da bruxaria.
Marcado nas horas mortas,
Quando vem o fim do dia.

Hó! minha Ilha encantadora,
Meu fraco é sempre te amar.
Pois tu és catita bruxinha
Que repousa sobre o mar


Franklin Joaquim Cascaes (São José, 16 de outubro de 1908 — Florianópolis, 15 de março de 1983), pesquisador da cultura açoriana, folclorista, ceramista, gravurista e escritor brasileiro. Dedicou sua vida ao estudo da cultura açoriana na Ilha de Santa Catarina e região, incluindo aspectos folclóricos, culturais, suas lendas e superstições. Usou uma linguagem fonética para retratar a fala do povo no cotidiano. Seu trabalho somente passou a ser divulgado em 1974, quando tinha 54 anos. Obras: Balanço bruxólico; Nossa Senhora, o linguado e o siri, A Bruxa metamorfoseou o sapato, Balé das mulheres bruxas, Mulheres bruxas atacando cavalos, O Boitatá, Mulheres dando nós em caudas e crinas de cavalos.

Mulheres bruxas atacando cavalos

Foi do pensamento inculto do homem de argila humana crua, que nasceu as estórias de que cavalos galopeiam pelos ares, quando são atacados por mulheres bruxas em atividades extra-terrenas, para chupar-lhes o sangue.

Contam que no dia seguinte, os animais que foram atacados durante a noite, e que galopearam pelos espaços siderais, apresentam-se sangrando, e com nós indesátaveis nas crinas e nos rabos.

Apontam como responsáveis pelos atos demoníacos bruxólicos, mulheres de suas comunidades, que são magras, feias e sujas, e que apresentam um dente no céu estrelado da boca e falam grosso quénem Homem gordo, nariz aquelino, etc.

Na ilha de Santa Catarina é muito comum o homem do interior cercar os ranchos ou estrbarias onde recolhem o seu gado, com redes de pescaria usadas, porque as bruxas também os chupam, acreditam, dentro da noite.

Hoje, no século vinte, a madame ciência afirma que quem faz os cavalos galoparem é o morcego, transmissor da raiva, não pelos ares, mas sim, campo a dentro.

Ora vejam, meus amigos,
Que nesta Ilha encantada,
Até bruxas são astronautas,
Que pilotam cavalhada.

Na bonita praia do Rapa,
De aguá azul e saborosa,
Elas entram de biquini,
E saem cobertas de rosas.


Franklin Joaquim Cascaes (São José, 16 de outubro de 1908 — Florianópolis, 15 de março de 1983), pesquisador da cultura açoriana, folclorista, ceramista, gravurista e escritor brasileiro. Dedicou sua vida ao estudo da cultura açoriana na Ilha de Santa Catarina e região, incluindo aspectos folclóricos, culturais, suas lendas e superstições. Usou uma linguagem fonética para retratar a fala do povo no cotidiano. Seu trabalho somente passou a ser divulgado em 1974, quando tinha 54 anos. Obras: Balanço bruxólico; Nossa Senhora, o linguado e o siri, A Bruxa metamorfoseou o sapato, Balé das mulheres bruxas, Mulheres bruxas atacando cavalos, O Boitatá, Mulheres dando nós em caudas e crinas de cavalos.

Boitatá

Este boitatá está passeando sobre a Ilha de Santa Catarina. É meia-noite. Ele está apreciando, de riba, as sessenta praias que ela possui, brancas quiném jasmim.
Para afugentá-lo a pessoa que o avista deve chamar a outra que estiver mais perto e gritar assim: "Zenobra, trás a corda do sino mode amarrar o boitatá, que lele anda por aqui!"

Ele foge imediatamente do mundo fascinante da fantasia humana.

Franklin Joaquim Cascaes / Ilha de Santa Catarina


Franklin Joaquim Cascaes (São José, 16 de outubro de 1908 — Florianópolis, 15 de março de 1983), pesquisador da cultura açoriana, folclorista, ceramista, gravurista e escritor brasileiro. Dedicou sua vida ao estudo da cultura açoriana na Ilha de Santa Catarina e região, incluindo aspectos folclóricos, culturais, suas lendas e superstições. Usou uma linguagem fonética para retratar a fala do povo no cotidiano. Seu trabalho somente passou a ser divulgado em 1974, quando tinha 54 anos. Obras: Balanço bruxólico; Nossa Senhora, o linguado e o siri, A Bruxa metamorfoseou o sapato, Balé das mulheres bruxas, Mulheres bruxas atacando cavalos, O Boitatá, Mulheres dando nós em caudas e crinas de cavalos.

Vassoura bruxólica

"É, neste mundo de Deus, há muitos mistérios e esta gente simples aqui da Ilha vive estas coisas quase como uma realidade. Meus lobisomens, bruxas, demônios e boitatás existem.

Sempre foi crença do povo hospitaleiro desta Ilha dos famosos bois de mamão que, na Sexta-Feira-Santa, não se deve tomar instrumentos de trabalho para usa-los, seja qual finalidade for.

É também costume tradicional deste povo, descendentes de colonos açorianos, que, na Sexta-Feira-Santa, a partir de zero hora, devem banhar-se nas ondas do mar, levando consigo animais domésticos, para purificarem-se e protegerem-se de todos os males do corpo físico e espiritual. As águas colhidas nesta hora servem para todo o tipo de cura.

É a fé, longínqua dos tempos, aliada a superstição, ao medo e ao amor pela conservação do corpo físico, na cura dos males que atacam o homem em franca vivência espiritual e física com o seu Deus. As forças atuantes de práticas religiosas freiam os instintos animalescos do homem, encaminhando-o, espiritualmente, para viver com bons modos junto com o seu Deus, com a cultura, na sociedade e conseqüentemente com o seu próximo.

A dança dos ossos

A noite, límpida e calma, tinha sucedido a uma tarde de pavorosa tormenta, nas profundas e vastas florestas que bordam as margens do Parnaíba, nos limites entre as províncias de Minas e de Goiás.

Eu viajava por esses lugares, e acabava de chegar ao porto, ou recebedoria, que há entre as duas províncias. Antes de entrar na mata, a tempestade tinha-me surpreendido nas vastas e risonhas campinas, que se estendem até a pequena cidade de Catalão, donde eu havia partido.

Seriam nove a dez horas da noite; junto a um fogo aceso defronte da porta da pequena casa da recebedoria, estava eu, com mais algumas pessoas, aquecendo os membros resfriados pelo terrível banho que a meu pesar tomara. A alguns passos de nós se desdobrava o largo veio do rio, refletindo em uma chispa retorcida, como uma serpente de fogo, o clarão avermelhado da fogueira. Por trás de nós estavam os cercados e as casinhas dos poucos habitantes desse lugar, e, por trás dessas casinhas, estendiam-se as florestas sem fim.

Vlad Tepes


Historicamente provado ele existiu, mas não como um vampiro. Seu nome é Vlad Tepes, ou Vlad Drácula, mais exatamente Vlad III. Vlad Drácula tem sido tão confundido com a moderna lenda dos vampiros que é difícil ignorá-lo, mas com a razão de corrigir o conceito popular sobre esta personagem tão desconhecida. Todos sabem quem Vlad Drácula foi. Ou pelo menos pensam que sabem.

De acordo com a opinião popular, Vlad Drácula, também conhecido como Vlad, o Empalador (Tepes), foi um príncipe no país da Transilvânia durante o século XV. Por causa de sua extrema crueldade, ele ficou conhecido como Drácula, que significa "filho do diabo". Ele era tão maléfico que as pessoas acreditavam que ele era um vampiro, ou pelo menos tinha um acordo com o diabo.

Lilith - A rainha da noite

De acordo com J. Gordon Melton, "Lilith, uma das mais famosas figuras do folclore hebreu, originou-se de um espírito maligno tempestuoso e mais tarde se tornou identificada com a noite. Fazia parte de um grupo de espíritos malignos demoníacos dos americanos que incluíam Lillu, Ardat Lili e Irdu Lili."

Segundo ele, Lilith apareceu também no Gilgamesh, épico babilônico, (aproximadamente 2000 a. C.) como uma prostituta vampira que era incapaz de procriar e cujos seios estavam secos. Foi retratada como uma linda jovem com pés de coruja (indicativos de vida noctívaga) que fugiu de casa perto do Rio Eufrates e se estabelece no deserto.

Lilith aparece no Antigo Testamento quando Isaías ao descrever a vingança de Deus, durante a qual a Terra foi transformada num deserto, proclamou isso como um sinal de desolação: "Lilith repousará lá e encontrará seu locar de descanso" (Isaías 34:14)

Pensamentos e visões de um decapitado

Tríptico: Primeiro minuto, segundo minuto, terceiro minuto

Há pouco ainda rolaram algumas cabeças do cadafalso. Nessa oportunidade ocorreu ao artista a idéia de pesquisar o problema: a cabeça teria a capacidade de pensar por alguns segundos depois de separada do tronco?

Eis o relato dessa pesquisa. Em companhia do Sr. ... e do Sr. D., magnetopata especializado, tive acesso ao cadafalso; lá solicitei ao Sr. D. estabelecer contato entre mim e a cabeça cortada, por intermédio de novos procedimentos que lhe pareciam adequados. O Sr. D. concordou. Fez alguns preparativos e então esperamos, não sem emoção, a queda de uma cabeça humana.

Assim que chegou o momento fatal, caiu a terrível lâmina, fazendo estremecer toda a armação e rolar a cabeça do julgado pelo horrível saco vermelho.

Ficamos com o cabelo em pé, mas não tivemos mais tempo para nos afastar. O Sr. D. me segurou pela mão (eu estava sob a sua influência magnética) levou-me até à cabeça em convulsões e me perguntou: O que está sentindo? O que está vendo? A emoção me impedia de responder na hora. Mas logo depois gritei, com extremo pavor: Horrível! A cabeça pensa! Agora estava querendo me livrar do que inevitavelmente iria acontecer, mas era como se um pesadelo me segurasse. A cabeça do executado enxergava, pensava, e sofria. Quanto tempo durou? Três minutos, como me disseram. O executado deve ter pensado: trezentos anos.

O elixir da longa vida


Num suntuoso palácio de Ferrara, por uma noite de inverno, Dom Juan Belvidero obsequiava um príncipe da Casa de Este. Naquela época, uma festa era um espetáculo maravilhoso, que somente extraordinárias riquezas ou o poderio de um senhor se podiam dar o luxo de oferecer.

Sentadas ao redor de uma mesa iluminada por velas perfumadas, sete alegres mulheres trocavam leves conceitos, por entre admiráveis obras-primas, cujos mármores brancos se destacavam nas paredes de estuque vermelho e contrastavam com ricos tapetes da Turquia.

Vestidas de cetim, faiscantes de ouro e cobertas de pedrarias que brilhavam menos que seus olhos, todas elas relatavam paixões violentas, mas variadas, como o eram suas belezas. Não diferiam nem pelas palavras nem pelas idéias; a expressão, o olhar, alguns gestos ou a inflexão de voz serviam às suas palavras de comentários libertinos, lascivos, melancólicos ou prazenteiros.

Uma parecia dizer: "Minha beleza sabe reaquecer o coração gelado dos velhos".

Outra: "Gosto de ficar deitada sobre coxins, para pensar com embriaguez naqueles que me adoram".

Uma terceira, noviça nessas festas, queria enrubescer: "No fundo do coração sinto remorso!", dizia. "Sou católica e tenho medo do inferno. Mas eu vos amo tanto, ah!, tanto e tanto, que posso vos sacrificar a eternidade!"

O Diabo e o relojoeiro

Vivia na paróquia de S. Bennet Fynk, perto da Bolsa Real, uma viúva pobre e honesta, a qual, tendo perdido o marido, aceitou inquilinos em sua casa, isto é, alugou algumas peças desta a fim de reduzir a despesa do aluguel.
Entre outras, cedeu a água-furtada a um fabricante de maquinarias de relógio, ou que fazia peças do gênero, e, segundo o hábito da época, trabalhava para as relojoarias.

Certo dia, um homem e uma mulher subiram para falar com o relojoeiro sobre alguma coisa relacionada a sua profissão. Chegando perto da escada, e vendo a porta inteiramente aberta, conseguiram enxergar o pobre infeliz (o fazedor de relógios ou de seus mecanismos) enforcado numa viga que saía da parede, um pouco abaixo do teto. Surpreendida com o espetáculo, a mulher parou e gritou para o homem que a seguia pela escada para que corresse e cortasse a corda do infeliz.

Naquele momento, de um canto do quarto, que da escada não era possível ver, corre outro homem, trazendo na mão um banco dobradiço, como quem vinha com muita pressa, e coloca-o no chão debaixo do pobre enforcado, e, apressado sempre, sobe ao banco, tira do bolso uma faca e, segurando a corda com uma das mãos, acena com a cabeça para o casal que se achava na porta, como para dizer-lhes que parassem, que não subissem, e mostra-lhes a faca na outra mão, como se estivesse a ponto de cortar a corda do enforcado.

Os olhos que comiam carne

Na manhã seguinte à do aparecimento, nas livrarias, do oitavo e último volume da História do Conhecimento Humano, obra em que havia gasto catorze anos de uma existência consagrada, inteira, ao estudo e à meditação, o escritor Paulo Fernandes esperava, inutilmente, que o sol lhe penetrasse no quarto.
Estendido, de costas, na sua cama de solteiro, os olhos voltados na direção da janela que deixara entreaberta na véspera para a visita da claridade matutina, ele sentia que a noite se ia prolongando demais. O aposento permanecia escuro. Lá fora, entretanto, havia rumores de vida. Bondes passavam tilintando. Havia barulho de carroças no calçamento áspero. Automóveis buzinavam como se fosse dia alto.

E, no entanto, era noite, ainda. Atentou melhor, e notou movimento na casa. Distinguia perfeitamente o arrastar de uma vassoura, varrendo o pátio. Imaginou que o vento tivesse fechado a janela, impedindo a entrada do dia. Ergueu, então, o braço e apertou o botão da lâmpada. Mas a escuridão continuou. Evidentemente, o dia não lhe começava bem. Comprimiu o botão da campainha. E esperou.

Ao fim de alguns instantes, batem docemente à porta.

- Entra, Roberto.

O criado empurrou a porta, e entrou.

O defunto

Quando ele despertou, deitado ao comprido num estreito caixão negro e dourado, tinha as mãos postas numa derradeira prece. Lançou vagamente os olhos em torno, e em torno tudo era silêncio e treva. Procurou levar as mãos aos olhos, mas sentiu as mãos presas, sem movimento; e parece-lhe então que estava morto.
Como é pesado o ar que respira! Como é profunda a escuridão que o encerra! E onde está? No seu quarto? No seu leito? Que estranha cama, estreita e dura! E por que dorme calçado? E que vestes tão solenes! Terá vindo ébrio de alguma festa? E as mãos amarradas! E que falta de ar!

Ah! que dolorosa e lenta agonia

De novo distendeu os braços; mas a fita que os unia partiu-se, e as mãos geladas bateram de encontro às tábuas. Passou os frios dedos pelo rosto e retirou-os espantado, sentindo a face morta como a de um cadáver. Veio-lhe à memória uma vaga lembrança de moléstia e de perda de sentidos.

E sentiu sobre si uma tampa, uma tampa de caixão, de caixão de defunto!

Agatha Christie


Nascida Agatha Mary Clarissa Miller em Torquay, condado de Devonshire, Inglaterra, a 15 de setembro de 1890. Filha de uma casal tipicamente vitoriano, mesmo sendo o pai, Frederick Miller, americano, foi criada segundo a melhor tradição européia. Seus pais tudo fizeram para que ela seguisse uma carreira de cantora lírica ou pianista. Mas Agatha Christie preferia passar o tempo escrevendo poemas e contos.

Ela foi educada em casa, onde estudou piano e canto, até que se casou em 1914, com o coronel Archibald Christie, cujo sobrenome adotaria até o final da vida. Quando começa a Primeira Guerra Mundial, ela se alista como voluntária no Exército da Cruz Vermelha. Atuando como enfermeira na Inglaterra, aceita um desafio da irmã: escrever uma história policial em que o leitor não pudesse descobrir a identidade do assassino antes do final da narrativa. Daí surgiu O Misterioso Caso de Styles, que tinha como protagonista um belga chamado Hercule Poirot, inspirado nos vários políticos belgas que se refugiaram na Inglaterra naquela época. Hercule Poirot seria ainda protagonista de uma série de outros livros, se consagrando como um dos maiores detetives já criados.

Anatole France


Com um estilo fluente, cético e sarcástico, Anatole France foi um dos literatos mais característicos de sua época, acerbo na crítica aos costumes e instituições.

Jacques-Anatole-François Thibault, que optou pelo pseudônimo de Anatole France, nasceu em Paris em 16 de abril de 1844. Filho de um livreiro, desde cedo recebeu sólida formação humanística e estreou com os versos parnasianos de Poèmes dorés (1873; Poemas dourados).

Seu ceticismo tomou forma com os primeiros romances: Le Crime de Sylvestre Bonnard (1881; O crime de Sylvestre Bonnard), sobre um filólogo perplexo ante a vida cotidiana; La Rôtisserie de la reine Pédauque (1893; A rotisseria da rainha Pédauque), que zomba do ocultismo; e Les Opinions de Jérôme Coignard (1893; As opiniões de Jérôme Coignard), crítica das instituições do estado.

Honoré de Balzac


Patrono do romance no Ocidente, Balzac é também, ao mesmo tempo, um historiador de costumes: sua minúcia documentária coloca-o na posição de precursor do realismo literário. O realismo, embora perpassado de elementos românticos e efeitos melodramáticos, é a característica central de sua obra e tanto os tipos sociais quanto o meio ambiente fornecem à matéria romanesca a dimensão histórica que lhe serve de apoio.

Romancista francês, Honoré de Balzac nasceu em Tours em 20 de maio de 1799. Após estudos no colégio dos oratorianos em Vendôme, decidiu em Paris, por volta de 1818, dedicar-se apenas à literatura, contrariando o desejo da família, que queria vê-lo advogado. A primeira peça que escreveu, Cromwell (1820), não chegou a ser encenada. Insistiu porém na escolha e continuou a escrever, preferindo agora a ficção, graças sobretudo ao estímulo de Laure de Berny, uma das muitas mulheres da alta sociedade que ao longo de sua vida prestaram-lhe apoio moral e financeiro.

Nos anos seguintes publicou, sob os pseudônimos de Lord R'Hoone e de Horace de Saint-Aubin, uma série de romances menores, posteriormente agrupados sob o título geral de Romans de jeunesse (Romances da juventude). Tais livros, embora se submetessem à moda dos folhetins e a influências diversas, já revelavam um incipiente talento.

Franklin Cascaes


Franklin Cascaes nasceu a 16 de outubro de 1908 em Itaguaçu, município de São José (SC). Faleceu a 15 de março de 1983, em Florianópolis. No decorrer de sua vida expressou em forma de arte os estudos que realizou sobre a cultura açoriana na Ilha de Santa Catarina, seus aspetos folclóricos, culturais, suas lendas e superstições como se fora um ritual abstrato que atingisse a estrutura vital do mito.

E fê-lo soberbamente, já que da pesca da tainha a cerâmica,dos cantos aos engenhos de farinha e açúcar, aprofundou sobretudo o estudo que trata das lendas através de um desenho fantástico, cujo sentido mítico dimensiona uma criatividade genuína e profunda.

Para Cascaes mito é a possibilidade de primordial, a realidade inteligível que estabelece de modo único, numa pré-figuração do mistério que antecede a revelação. A força criativa de Cascaes encontra-se, ainda, na capacidade de sua imaginação, a ponto de acrescentar elementos atuais às lendas da Ilha de Santa Catarina.

Tinha uma personalidade muito forte e curiosa e isto pode ser percebido no seguinte agradecimento: "aos que me contaram estórias e histórias; aos que me acolheram com o valor cultural do calor humano; aos que me hostilizaram, a todos enfim o meu obrigado".

Lady Godiva

A bela Lady Godiva teve pena do povo de Coventry, que sofria com os altos impostos do marido. Tanto apelou ao duque, que ele aceitou conceder alterações e reduzir os impostos, mas sob uma condição: que ela cavalgasse nua pelas ruas de Coventry.

Lady Godiva (990? – 1067) foi uma aristocrata anglo-saxônica, esposa de Leofric (968–1057), Duque da Mércia, e que de acordo com a lenda cavalgou nua pelas ruas de Coventry, Inglaterra. Também figura nas Crônicas de Ely, que a descrevem como uma viúva, na ocasião do seu casamento com Leofric.

Em 1043, Leofric fundou a Ordem de São Bento em Coventry. Sua marca, "di Ego Godiva Comitissa diu istud desideravi", aparece na carta de Thorold de Bucknall ao mosteiro beneditino de Spalding. Alguns genealogistas argumentam que Thorold, que aparece no Livro de Domesday como xerife de Lincolnshire, fora provavelmente seu irmão.

domingo, 13 de março de 2011

Literatura fantástica


Tida durante muito tempo como gênero menor, a literatura fantástica produziu, no entanto, obras de interesse universal. Na segunda metade do século XX, ganhou imensa popularidade a vertente fantástica latino-americana conhecida como realismo mágico.

Entendida como qualquer tipo de criação literária que não dê prioridade à representação realista, a literatura fantástica engloba mitos, lendas, contos de fada, contos folclóricos, escritos surrealistas, contos de horror etc. -- e qualquer texto que se situe em territórios diferentes da realidade imediata ao ser humano. Mais propriamente do que gênero literário, a literatura fantástica é uma tendência, observada ao longo de toda a história da literatura.

Literatura de horror


A literatura de horror se caracteriza por levar o leitor a aceitar a verossimilhança do inacreditável e a aderir emocionalmente à atmosfera angustiante ou sobrenatural sugerida pelo autor.

Pode-se fixar em 1764 o início da literatura de horror, com a publicação de The Castle of Otranto (O castelo de Otranto), de Horace Walpole. O cenário da obra, um castelo do século XIII, deu nome ao romance gótico, típico da literatura de horror, cujos títulos mais célebres são The Mysteries of Udolpho (1794; Os mistérios de Udolpho), de Ann Radcliffe, e The Monk (1796; O monge), de Matthew Gregory Lewis.

Fenômeno da segunda metade do século XVIII, o romance gótico prolongou sua influência até o século seguinte. Uma de suas reminiscências típicas é The Haunters and the Haunted or The House of the Brain (Os assombradores e os assombrados ou A casa do cérebro), de Edward Bulwer-Lytton.

Albert Camus


Em seu esforço para encontrar um sentido para a vida humana sem recorrer ao dogmatismo nem a falsas esperanças, Albert Camus foi muitas vezes mal compreendido mas influenciou decisivamente sua geração intelectual e a seguinte.

Albert Camus nasceu em Mondovi, Argélia, em 7 de novembro de 1913. Com a morte do pai na batalha do Marne, durante a primeira guerra mundial, passou por sérias dificuldades econômicas junto com a família.

Conseguiu, no entanto, estudar filosofia na Universidade de Argel e exerceu várias profissões até se formar. Tuberculoso, não pôde trabalhar como professor e resolveu abraçar a carreira literária, que iniciou como jornalista e fundador do Théâtre du Travail. As agruras desses anos se refletem em suas primeiras obras, as coletâneas de ensaios L'Envers et l'endroit (1937; O avesso e o direito) e Noces (1938; Bodas).

Aldous Huxley

Intelectual culto e requintado, Huxley fez muito sucesso, nas décadas de 1930 e 1940, com uma série de romances de técnica em parte experimental, quase sempre comprometidos com a discussão de idéias. 
Anos mais tarde, adquiriu importância por ter antecipado elementos da contracultura das décadas de 1960 e 1970, como a rejeição do consumismo, as tendências anarquistas, o interesse pelo Oriente e as experiências místico-visionárias.

Aldous Leonard Huxley nasceu em 26 de julho de 1894 em Godalming, Surrey. Descendente de ilustre família, era neto do naturalista Thomas Henry Huxley, famoso defensor do darwinismo, filho do escritor Leonard Huxley e irmão do biólogo Julian Huxley e do fisiologista Andrew Fielding Huxley. Após estudar em Eton e Oxford, passou a dedicar-se à literatura e publicou alguns volumes de poesia, entre os quais Defeat of Youth (1918; Derrota da juventude).

O intruso

That night the Baron dreamt of many a wo; / And all his warrior-guests, with shade and form / Of witch and demon, and large coffin-worm, / Were long be-nightmared.
Keats
Pobre de quem da infância lembra apenas de seus medos e tristezas. Infeliz daquele que recorda as horas solitárias em salas vastas e sombrias com reposteiros marrons e loucas fileiras de livros arcaicos, ou as vigílias apavoradas nos bosques crepusculares de árvores imensas, grotescas, entulhadas de trepadeiras cuja rama entrelaçada agita-se silenciosa nas alturas longínquas.

Essa sina reservaram-me os deuses — a mim, o aturdido, o frustrado, o estéril, o prostrado. E, no entanto, me alegro e me aferro com voracidade a essas memórias fanadas quando meu espírito ameaça por um momento se atirar para o outro.

Não sei onde nasci, exceto que o castelo era muitíssimo velho e medonho, repleto de passagens sombrias e com tetos altos, onde tudo que os olhos conseguiam alcançar era teias de aranha e sombras. As pedras dos corredores em ruínas pareciam estar sempre úmidas demais e um cheiro execrável espalhava-se por tudo como se exalasse dos cadáveres empilhados das gerações passadas.

Estava sempre escuro e eu costumava acender velas e olhar fixamente para elas em busca de consolo, e o sol não brilhava no lado de fora com aquelas árvores terríveis elevando-se para além da mais alta torre acessível. Havia uma torre escura que subia além da copa das árvores para o céu invisível, mas uma parte dela havia ruído e não se podia galgá-la senão escalando as paredes abruptas, pedra por pedra.

Apuleio


A crise ideológica de Roma no século dos Antoninos, quando o ceticismo cortesão se entrelaçou ao crescente influxo dos cultos orientais, serviu de pano de fundo à elaboração da obra de Apuleio, notável figura da literatura, da retórica e da filosofia platônica de sua época.
Lúcio Apuleio nasceu em Madaura, na Numídia (moderna Argélia), por volta do ano 124. Educado em Cartago e Atenas, viajou pelo Mediterrâneo, interessando-se por ritos de iniciação como os associados ao culto da deusa egípcia Ísis.

Versátil e familiarizado com os autores gregos e latinos, ensinou retórica em Roma antes de regressar à África para casar-se com uma rica viúva, cuja família o acusou de ter recorrido à magia a fim de conquistar seu afeto. Para defender-se de tal acusação escreveu a Apologia (173), obra da qual emanam as informações disponíveis sobre sua vida.

Escreveu ainda diversos poemas e tratados, entre os quais Florida, coletânea de trabalhos de eloqüência, mas a obra que lhe deu fama foi a narrativa em prosa em 11 livros a que chamou Metamorfoses e se tornou conhecida como O asno de ouro. São aí relatadas as aventuras do jovem Lúcio, que é transformado por magia em burro e só recupera a forma humana graças à intervenção de Ísis, a cujo serviço se consagra.

O episódio mais destacado dessa obra-prima de Apuleio -- o único romance da antiguidade a chegar completo aos nossos dias -- é a bela fábula de "Amor e Psiquê", que pode ser interpretada como narração puramente estética ou, então, como alegoria da união mística. O episódio, aliás, destoa do estilo do romance em geral, pois este relaciona cenas grotescas, terrificantes, obscenas e, em parte, deliberadamente absurdas.

O tema de "Amor e Psiquê" foi retomado por muitos escritores, entre os quais, no século XIX, os poetas ingleses William Morris e Robert Bridges. Outras passagens de O asno de ouro reapareceram no Decameron, de Giovanni Bocaccio, no Don Quixote, de Miguel de Cervantes, e no Gil Blas de Alain Le Sage. Apuleio morreu em Cartago, provavelmente após o ano 170.

Fonte:Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações Ltda.

Petrônio


Personagem de destaque na corte de Nero, o escritor romano Petrônio deixou um retrato sarcástico da sociedade romana do século I da era cristã na obra Satíricon, que mantém atualidade como crítica social e fonte documental.

Acredita-se que o autor do Satíricon tenha sido o mesmo Caio Petrônio o Árbitro que viveu em Roma e a quem se referiu o historiador romano Tácito em seus Anais (XVI, 18-19).

De família aristocrática, foi descrito como pessoa requintada, que amava os prazeres da mesa e da vida em geral, o que não o impediu de exercer com eficiência e retidão os cargos de governador da Bitínia, atual Turquia, e depois o de cônsul. Conselheiro de Nero, no ano 63, aproximadamente, foi por ele nomeado arbiter elegantiae (árbitro da elegância).

O romance de Petrônio, do qual só se conservam partes, é destituído de intenções moralistas e reproduz o ambiente romano de devassidão nos bordéis e nas estações de água, com seus parasitos, prostitutas, novos-ricos e literatos.

Narrado por um libertino que viaja com dois companheiros pelo sul da Itália, os capítulos mais famosos são a "Matrona de Éfeso" -- fonte de anedotas sobre as mulheres e de várias novelas e comédias -- e "O festim de Trimalcião" -- em que o dono da casa, ansioso por mostrar-se culto, cai no ridículo ao desfiar uma série de citações equivocadas.

A obra, talvez escrita com a intenção de ridicularizar a oposição burguesa e intelectual a Nero, é uma das origens da novela moderna e o primeiro romance realista da literatura universal. Serviu de inspiração ao filme Satíricon, dirigido em 1969 pelo cineasta italiano Federico Fellini.

Vítima de intriga, Petrônio foi condenado ao suicídio, acusado de participar na conspiração do ano 65 contra o imperador. Passou suas últimas horas numa festa, em Cumas. Nessa ocasião, catalogou os vícios de Nero e enviou-lhe a lista antes de cortar os pulsos, no ano 66.

Fonte: Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações Ltda.

Daniel Defoe


O profundo conhecimento da sociedade em que viveu e o talento para analisar os mínimos detalhes da existência cotidiana fizeram de Defoe um precursor do romance realista inglês.

Daniel Defoe nasceu em Londres em 1660. Membro de uma família dissidente da Igreja Anglicana, recebeu esmerada educação literária. Pretendia seguir a carreira eclesiástica, mas acabou se estabelecendo como comerciante por volta de 1683.

Atraído pela política, começou a escrever numerosos panfletos, um dos quais motivou seu encarceramento e a condenação ao pelourinho. Enquanto aguardava o cumprimento da pena, Defoe redigiu o célebre Hymn to the Pillory (1703; Hino ao pelourinho), que transformou a sentença num retumbante triunfo para ele. Contudo, ficou quase um ano preso em Newgate.

Uma vez livre, Defoe, cujos negócios estavam falidos, fundou em 1704 o periódico Review, de tendência conservadora, em que tratava de uma grande variedade de temas, e por isso foi considerado um precursor do jornalismo moderno. Decidindo-se pela literatura, publicou em 1719 Robinson Crusoe, romance que o tornou célebre.

Vazado em estilo realista e simples, inspirava-se na história verídica de Alexander Selkirk, marinheiro abandonado durante anos numa ilha deserta. A obra fez grande sucesso, embora, a princípio, fosse considerada apenas um relato de aventuras e só depois tenha assumido o caráter de símbolo do homem que enfrenta a natureza valendo-se apenas de suas forças e de sua razão.

Moll Flanders (1722) trazia o mesmo substrato moralista da obra anterior, mas graças à vivacidade da narrativa e à descrição realista da vida nas camadas inferiores da sociedade, constituiu um passo decisivo na história do romance social.

Em seus últimos anos de vida, o escritor manteve intensa atividade, mas tanto A Journal of the Plague Year (1722; Diário do ano da peste), minuciosa descrição dos horrores provocados em 1665 pela peste em Londres, quanto o romance Roxana (1724) são marcados por certa monotonia estilística.

Daniel Defoe morreu em Londres em 24 de abril de 1731.

Fonte: Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações Ltda.

Atena

Atena é a deusa grega da bravura, da sabedoria e dos trabalhos femininos, cujo nome pode estar relacionado com o proto-indo-europeu atta, "mãe". Os romanos a sincretizaram com sua deusa Minerva. Sua ave predileta era a coruja, simbolo de reflexão que domina as trevas e sua árvore favorita era a oliveira. Era descrita como alta, de traços serenos, mais solene e majestosa que bela. Era sempre descrita como de olhos garços (de cor clara, azul, verde ou cinzenta), característica considerada fisicamente pouco atraente por gregos e romanos.

Uma tabuinha em linear B, datando de 1500 a.C., menciona uma Atana potinija, antecipando-se em sete séculos à pótnia Athênaíê ("Atena Soberana") de Homero e sugerindo que ela era já a senhora das cidades em cuja Acrópole figurasse o seu Paládio.

Segundo a versão mais conhecida do mito, narrada por Hesíodo e enriquecida por detalhes acrescentados por Píndaro e Estesícoro, Zeus estava em guerra com os Gigantes, quando sua primeira esposa, Métis, ficou grávida. A conselho de Urano e Gaia, o senhor do Olimpo a engoliu pois, segundo a predição de seus avós se Métis tivesse uma filha e esta um filho, o neto arrebataria de Zeus o poder supremo.

Robert Louis Stevenson

Tido a princípio como ensaísta artificial e afetado, ou mero escritor de livros infantis, somente meio século após sua morte Stevenson passou a ser visto como autor vigoroso e original, que em seus ensaios e romances revela aguda percepção da alma humana.

Robert Louis Balfour Stevenson nasceu em 13 de novembro de 1850 em Edimburgo, Escócia. Filho de renomado engenheiro civil, recusou-se a seguir a profissão do pai e comprometeu-se a estudar direito, mas abandonou o curso para ser escritor.

Em 1873 viajou à França em busca de clima mais adequado ao tratamento dos problemas respiratórios que o atormentavam. Suas freqüentes viagens ao exterior, em especial à França, foram relatadas no livro de crônicas An Inland Voyage (1878; Uma viagem pelo interior) e Travels with a Donkey in the Cévennes (1879; Viagem com um asno nas Cévennes).

Charles Baudelaire

Baudelaire marcou com sua presença as últimas décadas do século XIX, influenciando a poesia internacional de tendência simbolista. De sua maneira de ser originaram-se na França os poetas "malditos". De sua obra derivaram os procedimentos anticonvencionais de Rimbaud e Lautréamont, a musicalidade de Verlaine, o intelectualismo de Mallarmé, a ironia coloquial de Corbière e Laforgue.

Poeta e crítico francês, Charles-Pierre Baudelaire nasceu em Paris em 9 de abril de 1821. Desavenças com o padrasto forçaram-no a interromper seus estudos, iniciados em Lyon, para uma viagem à Índia, que interrompeu nas ilhas Maurício.

Ao regressar, dissipou seus bens nos meios boêmios de Paris, onde conheceu a atriz Jeanne Duval, uma de suas musas. Outras seriam, depois, Mme. Sabatier e a atriz Marie Daubrun. Endividado, foi submetido a conselho judiciário pela família, que nomeou um tutor para controlar seus gastos. Baudelaire permaneceu sempre em conflito com esse tutor, Ancelle.

E. T. Hoffmann


Os tons macabros e sarcásticos que Hoffmann emprestou freqüentemente à narrativa romântica exerceram influência duradoura em toda literatura fantástica posterior.

Ernst Theodor Wilhelm Hoffmann (cujo penúltimo nome trocou para Amadeus em homenagem a Mozart) nasceu em 24 de janeiro de 1776 em Königsberg, Prússia (posteriormente Kaliningrado, Rússia).

Estudou direito e depois de ocupar vários cargos burocráticos tornou-se, em 1806, diretor de orquestra em Bamberg e em Dresden, já que, além de escritor, era excelente crítico musical e compositor de qualidades, autor do balé Arlequin (1811) e da ópera Undine (1816).

Em 1814 Hoffmann mudou-se para Berlim como juiz da corte de apelação. Iniciou a carreira literária com Phantasiestücke nach Callots Manier (1814-1815; Fantasias à maneira de Callot), coleção de contos fantásticos, seguidos do romance Elixieren des Teufels (1815-1816; As drogas do diabo).

O prestígio que lhe deram essas obras tornou-se ainda maior com a publicação de livros de contos como Nachtstücke (1817; Cenas noturnas) e Die Serapionsbrüder (1819-1821; Os irmãos Serapião). Neles predomina uma angustiante confusão entre o sono e a vigília, a vida real e o sobrenatural; e sinistros ou estranhos personagens irrompem na vida cotidiana dos seres humanos para marcá-los indelevelmente com sua presença.

A última obra do autor foi um romance, Lebensansichten des katers Murr nebst fragmentarischer Biographie des Kapellmeisters Johannes Kreisler (1820-1822; Opiniões do gato Murr, com uma biografia fragmentária do maestro Johannes Kreisler), magnífico exemplo de sua irônica capacidade de observação.

Suas obras de ficção inspiraram óperas e balés a compositores como Wagner, Hindemith e Offenbach ao criarem óperas e balés, e sob o título de Contos de Hoffmann tornaram-se leituras favoritas do grande público.

Hoffmann morreu em Berlim em 25 de junho de 1822.

Fonte: Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações Ltda.

Ariadne

Ariadne em Naxos, de Evelyn de Morgan (1877)
Ariadne, Ariagne, Ariane ou Ariana era a filha de Minos, rei de Creta e Pasífae. Apaixonou-se por Teseu e ajudou-o a derrotar o Minotauro, mas foi por ele abandonado. Entretanto, o deus Dioniso a viu e por ela se apaixonou, tornando-a sua esposa. Seu nome parece derivar de ari hadnê, "a mais sagrada"; a variante Ariagne significa ari hagnê, "a mais honrada". Em Roma, foi sincretizada com Líbera, a esposa de Líber, deus do vinho sincretizado com Dioniso.

Segundo a versão mais conhecida do mito, narrada por Ovídio, quando Teseu chegou a Cnossos para ser sacrificado ao Minotauro no intrincado Labirinto, mas com a esperança de derrotá-lo, Ariadne apaixonou-se pelo herói ateniense.

Ariadne deu-lhe, a conselho de Dédalo, um novelo de fios para que pudesse, após liquidar o Minotauro - também conhecido como Astérios e irmão de Ariadne -, encontrar o caminho de volta, façanha quase impossível. Teseu deveria desenrolá-lo, à medida que explorasse o Labirinto, o que lhe facilitaria a saída. Em troca, prometeu desposá-la e levá-la para Atenas.

Centauros

Centáurides coroam Afrodite", mosaico romano, Thurburbo Majus (Tunísia)
Os centauros são seres representados como parcialmente humanos e parcialmente eqüinos. Desde as mais antigas representações gregas, são pintados com um torso humano unido pela cintura à nuca de um cavalo. Às vezes, têm também as orelhas compridas e pontudas e os narizes chatos característicos dos sátiros.

São vistos muitas vezes como seres semi-animalescos, divididos entre uma natureza humana e outra animal. Outras vezes, também são vistos como encarnação da natureza selvagem, como em sua batalha com os lápitas. Entretanto, alguns centauros, como Quíron, fazem o papel de sábios mestres de heróis.