sábado, 2 de fevereiro de 2013

Na Ilha do Medo


O primeiro homem com quem falamos sobre a ilha do Medo, no porto de Salvador, olhou-nos de alto a baixo e emudeceu. Era um camarada de gestos mecânicos e poucas palavras, mas sabia muita coisa das vizinhanças do mar.

– O senhor sabe onde fica a ilha do Medo?

– Sei.

– Fica longe?

– Sim.

– Quantas milhas, mais ou menos, da costa?

– Umas doze ou quinze – disse ele. E empacou novamente.

O outro era um rapaz de olhos vivos e ariscos, blusão de zuarte desbotado aberto no peito e músculos saltados. Falou-nos de distâncias marinhas, peixes, alimentação e embarcações. Mas quando perguntamos se conhecia a ilha do Medo, desfez o sorriso que tinha amontoado num canto da boca e respondeu com secura: “Conheço”.

– Como é que poderíamos ir até lá?

– O senhor pretende ir à ilha do Medo?

– Sim.

– Fazer o que?

– Nada.

Notamos novamente o mesmo olhar do outro homem, nos olhos do rapaz de zuarte. As palavras começaram a diminuir, foram encurtando até virar monossílabos, que saíam angustiados de sua boca.

– Que diabo, rapaz, o que há com a ilha do Medo? Queremos ir até lá por curiosidade, ver o mato, os bichos, as ruínas dos holandeses. Outros querem ver as igrejas, os fortes ou o candomblé. Nós queremos ver a ilha do Medo.

– Mas nunca vai ninguém lá, – disse ele – a ilha está deserta. Só existem bichos selvagens no mato, depois…

– Depois o que?

– Contam coisas de arrepiar os cabelos.

– Que coisas, por exemplo?

O rapaz nos olhou mais uma vez, desconfiado, e disse, retirando-se:

– Se o senhor quiser ir, pode ir, mas eu não levo ninguém lá. Aquela ilha é mal assombrada, está cheia de fantasmas.

Bruxas de goelas de fogo

Miguel estava sentado no casco de um saveiro, emborcado na praia. Ao chegar, cumprimentamos, mas ele apenas levantou um pouco dos olhos a aba do chapéu e nos encarou demoradamente. Só respondeu ao cumprimento depois de familiarizar-se com a nossa presença. Soltou um “boa tarde” atrasado, olhou novamente para um ponto qualquer e começou a falar com desembaraço:

– Gilberto me disse que os senhores querem ir à ilha do Medo.

– Estamos aqui para isso. – Falamos com o moço no porto. – Ele nos informou que o senhor tem um saveiro grande.

– É o Leviatã. Está ali no meio daqueles barcos.

– Será possível sairmos amanhã?

– Sim, mas se não quiserem voltar tarde da noite, terão de se mexer muito cedo, ainda de madrugadinha.

– Bem, nós pretendemos passar o dia na ilha.

O homem fez a volta do saveiro e mexeu no leme, depois pegou uma lata de tinta que havia sobre a areia e encaminhou-se para nós de olhar muito vago e sem interesse.

– Bem moço, não que aquela ilha seja um inferno, mas contam coisas dela. Dizem que é mal assombrada. Os pescadores que se atrasam no mar ouvem gritos que partem de lá, e às vezes chamados pelo seu nome. Esses gritos são roucos e estranhos, como um choro. Vêm da ilha com o vento reboando pelo mar, depois somem e tornam a voltar mais fortes. Quando o mar está calmo, ouvem-se lamentos e uivos. E no meio disso tudo, o chamado, o chamado insistente, entrando pelos ouvidos deles, quando o saveiro está quase parado por falta de vento.

– Não vive ninguém na ilha?

– Ninguém. Faz muito tempo que ela está deserta. Desde o tempo dos holandeses, que tinham lá uma fábrica de pólvora.

E Miguel continua a sua narração estropiadamente, na sua linguagem meio do mar, meio da terra:

– Já viram coisas danadas na ilha do Medo. Uma vez, um pescador voltou dizendo que tinha visto uma mulher de cara negra e feia como a morte, que caminhou da ilha até o seu saveiro, sobre as águas. Tinha a boca imensa e as goelas incendiadas de labaredas vermelhas. Quando cegou ao lado do saveiro, ele sentiu um cheiro de enxofre e pano queimado.

– Mas a mulher fez alguma coisa ao pescador?

E Miguel respondeu:

– Não, mas depois que ele contou a história perdeu a fala para sempre.

– A alma danada dos holandeses que morreram na guerra habita a ilha do Medo, desde aqueles tempos. Se o senhor quiser ir, vá, mas eu não me responsabilizo pelo que houver. Os danados dos holandeses nunca abandonaram aquele lugar. Vivem até hoje na ilha, assustando os homens que se atrasam no mar. Também vão para lá os pescadores que morrem afogados na baía de Todos os Santos. É por isso que quando o mar está calmo, se houvem lamentos e uivos, vindos daquele lado.

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Fonte: Jangada Brasil in "Sem indicação de autoria. “Na ilha do Medo há coisas de arrepiar os cabelos”. Folha de Minas. 29 de julho de 1951".

A casa mal-assombrada

De um momento para outro o alferes de milícias de Vila Rica, João Rufino, apresentou-se cheio de dinheiro, naquelas Minas, bem enroupado, melhor montado, com armas garantidas, e a fazer uns gastos tão em desacordo com a sua anterior pobreza, que punha toda a gente de boca aberta.

Onde fora ele desentranhar dinheiro? Heranças não recebera, pois bem conhecida era toda sua família, paupérrima; no jogo, também não era possível, pois nunca o tinham visto com semelhante defeito; para se dizer que passara algum contrabando de ouro ou diamantes, também não se podia admitir, pois João Rufino na verdade era um indivíduo muito alegre e folgazão, porém de conduta irrepreensível.

O certo foi que os pacatíssimos mineiros não atinaram com aquele mistério, e João Rufino continuava a assombrá-los com as suas incomparáveis despesas.

No entanto o dinheiro de João Rufino, a acreditar na lenda que ele próprio se encarregara de divulgar, viera por bom caminho. E assim, depois de se ter divertido durante algum tempo com a curiosidade dos patrícios, deliberou contar-lhes tudo, escolhendo para isso uma noite em que dava a cear a diversos amigos.

* * *

Achavam-se os seus convivas na sobremesa, tendo já devorado uma excelente canja feita de três galinhas que rachavam de gordas, uma bem tortada leitoa e outras coisas suculentas, tudo regado com excelente vinho, quando João Rufino, dirigindo-se a eles, lhes falou deste modo:

O segredo do Lago Nemi


O lago Nemi é um local próximo a Roma onde foram, no século XI, encontrados vestígios de duas embarcações que se acreditava serem da época do Império Romano. Após várias escavações que ocorreram durante séculos, esse lago, sob ordens de Mussolini, passou a ser drenado. A drenagem fez vir à tona duas enormes embarcações, que suscitaram novas pesquisas acerca da construção naval romana, além de estudos sobre a escavação destas. Além disso, ela revelou, também, que ambas as embarcações eram de grande luxo, possuindo colunas de mármore e mosaicos como piso, entre outros. Depois que as bombas pararam de funcionar, um museu foi construído na região e, durante a Segunda Guerra Mundial, os barcos foram queimados por alemães.

No início do século XV, o humanista Flavio Biondo, em suas obras histórico-geográficas Roma instarurata e Italia illustrata, comenta a existência de alguma coisa muito antiga sob as águas do lago. Em 1464, Leon Battista Alberti, realizou algumas sondagens e recuperou alguns objetos que o permitiram afirmar que deveria tratar-se de um naufrágio.

As primeiras tentativas de resgate foram realizadas por Francesco De Marchi em 1535, utilizando um tipo de escafandro por ele inventado. Mais alguns objetos foram recuperados nesta tentativa.

Houve então uma lacuna e, apenas em 1895, o antiquário Eliseo Borghi realizou algumas explorações que lhe permitiram trazer a tona algumas peças de madeira e o primeiro objeto de bronze: parte de um timão. O resgate continuou e mais objetos foram recuperados, incluíndo os cabeços de amarração em bronze com formato de cabeça de animais reproduzidos aqui nas margens. Todos os objetos confirmaram a existência de pelo menos uma embarcação submersa.

Com a exposição do que foi resgatado no Museu Nazionale Romano, o Ministero della Pubblica Istruzione (um nosso Ministério da Cultura) decidiu realizar prospecções mais detalhadas. Trabalhos estes que culminaram com a confirmação da existência não de uma mas sim de duas embarcações romanas afundadas.

A primeira delas estava a cerca de 50 metros da margem numa profundidade que variava dos 5 aos 12 metros e, a segunda localizada a cerca de 70 metros da margem e a uma profundidade variando dos 16 aos 21 metros.

Decidiu-se pela remoção das embarcações mas, só depois de muitos anos, em 1928, foi decidido o método a ser utilizado para tal: o lago seria parcialmente esvaziado.

Com o apoio financeiro e logístico de industriais e de sociedades, foi utilizado um antigo aqueduto romano para auxiliar nos trabalhos. Todos os processos iniciaram-se no dia 20 de Outubro de 1928. Apenas em 28 de Março de 1929, quando o nível do lago havia baixado em 5 metros, a primeira embarcação começou a surgir. A segunda só despontou no dia 30 de Janeiro de 1930.

O esvaziamento parcial do lago terminou em Outubro de 1932 e calculou-se que foram retirados cerca de 50.000.000 de metros cúbicos de água.

As embarcações que surgiram tinham as seguintes medidas:

A primeira (prima nave) 71,30  X 20 X 3,5 e a segunda (soconda nave) 73 X 24,4 X 2,7. Ambas movidas por uma fileira de remos de cada lado. A primeira embarcação possuía características de uma embarcação militar pois tinha dois lemes na popa e possuía o esporão na proa.

Após grandes discussões sobre sua data, chegou-se a conclusão que haviam sido construídas sob o governo de Calígula e uma foi construída para ser um templo à Diana e outra como um palácio flutuante.

Além da grande quantidade de objetos recuperados, as próprias embarcações permitiram um enorme estudo sobre a construção naval romana do séc. I d.C.

Ambas foram instaladas num museu e durante mais de uma década puderam ser apreciadas até que na noite do dia 31 de Maio de 1944 um incêndio, destruiu o museu e as duas embarcações.

O museu foi reconstruído em 1953 e abriga os objetos que haviam sido resgatados e 2 quilhas.

Recentemente foi fechado um acordo entre diversas empresas para construir réplicas em tamanho natural para novamente serem abrigadas pelo museu.
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Fontes: historiahistoria.com.br; Marcello De Ferrari - naufragios.com.br

A princesa de Amon-Rá

O relato que se segue, andei guardando-o por meses a fio, até que saísse de moda e a leitora não se zangasse ao ver o assunto novamente em pauta. Ele serve bem para ilustrar os tesouros que se pode encontrar na grande Rede, desde que se tenha paciência para ler um monte de porcaria antes de se deparar com algo que preste. Encontrei este pseudo-conto num dos artigos postados nos newsgroups sobre Egiptologia e História Antiga na Usenet, pelo colega Steve Abatangle.

Voltando bastante no tempo, a saga se inicia com a princesa de Amon-Ra, que viveu cerca de 1.500 anos antes de Cristo. Quando faleceu a nobre donzela, seu belo corpo foi depositado num lindamente ornamentado caixão de madeira e enterrado profundamente numa câmara em Luxor, ou melhor, do outro lado do Nilo, no Vale dos Reis.

No final da década de 1890, quatro ingleses abastados, visitando as escavações na região, foram contatados por um indivíduo que lhes ofereceu um misterioso sarcófago contendo os restos mortais da princesa de Amon-Ra. Eles iniciaram uma disputa monetária pela peça e ofereceram lances cada vez mais altos, tal como num leilão. O vencedor acabou pagando vários milhares de libras esterlinas pelo raríssimo artefato e mandou que o entregassem em seu hotel. Horas mais tarde, o tal cavalheiro foi visto caminhando sozinho deserto adentro. Nunca mais foi encontrado.

No dia seguinte, um dos três mancebos remanescentes da disputa levou um tiro acidental de um serviçal egípcio que limpava uma arma no salão em que estava. Seu braço foi tão gravemente ferido que teve que ser amputado.

O terceiro homem do quarteto de janotas britânicos, ao retornar para a Inglaterra, teve a infeliz notícia de que o banco em que guardava toda sua poupança de vida acabara de falir. O quarto cidadão do grupo, pobre homem, foi acometido de grave enfermidade. Perdeu seu emprego e reduziu-se a um vendedor de fósforos nas ruas da cidade.

Sabe-se lá como, mas o sarcófago acabou chegando à Inglaterra, obviamente causando uma série de desgraças durante o caminho. Em pouco tempo foi adquirido por um negociante residindo em Londres. Depois de ter três de seus familiares feridos em um acidente de estrada e de ter sua casa destruída por um incêndio, o tal sujeito rapidamente resolveu doar a peça ao Museu Britânico. Ao descarregar o esquife do caminhão, no pátio do museu, o motor do veículo subitamente engrenou a ré e esmagou um transeunte. Ao levar a urna escada acima, um dos dois carregadores tropeçou e quebrou uma perna. O outro, aparentemente em perfeito estado de saúde, morreu estupidamente dois dias depois.

Uma vez instalado o sarcófago da princesa na Sala Egípcia, aí sim é que a encrenca realmente começou. Os vigias noturnos ouviam soluços e batidas provenientes do interior do caixão. Um dos vigias faleceu em serviço, fazendo com que os outros decidissem abandonar o emprego. Até o pessoal da limpeza passou a se recusar a trabalhar perto da princesa.

Um visitante zombeteiramente esfregou um pano de limpeza no rosto pintado sobre o sarcófago. Seu filho morreu de sarampo dias depois. Por fim, as autoridades acharam melhor transferir a problemática múmia para uma sala isolada no porão, imaginando que lá embaixo ela não poderia causar maiores complicações. Após uma semana, um dos funcionários caiu seriamente enfermo e o supervisor da tarefa de transferir a peça foi encontrado morto em seu escritório.

A essa altura, a imprensa já estava se ocupando do caso. Um fotógrafo retratou a pintura do esquife e, quando foi revelar a chapa, deparou-se com a horripilante figura de um rosto humano estampada na tampa do caixão. O assustado profissional foi direto para casa, trancou-se no quarto e se matou com um taco no quengo. Pouco tempo depois, a múmia foi vendida para um colecionador particular. Após vários infortúnios e mortes, o novo dono guardou o malfadado sarcófago no sótão.

A venerável iniciada e expert em ocultismo, Madame Helena Petrovna Blavatsky, visitou a morada do colecionador. Logo que adentrou o domicílio foi tomada por um ataque de tremedeira e imediatamente passou a vasculhar a casa inteira em busca de uma "influência maligna de incrível intensidade". Finalmente chegou ao sótão e encontrou a urna funerária da princesa. Perguntada se poderia exorcizar o mau espírito, Madame Blavatsky disse que o mal permanece mau para sempre e que nada podia ser feito. Ela implorou para que o dono se livrasse daquele sarcófago o mais rápido possível.

No entanto, nenhum museu na Inglaterra queria segurar aquela batata quente. Num período de 10 anos, mais de 20 pessoas sofreram alguma desventura grave, desastre ou morte, apenas por chegar perto ou manusear o sarcófago.

Mas, como se isso tudo não bastasse, um arqueólogo americano cabeça-dura, que reputava os acontecimentos sinistros aos caprichos do destino, pagou vultosa soma e providenciou a remoção da múmia e sua urna para Nova York.

Em abril de 1912, o novo dono do abacaxi embarcou seu tesouro num grande navio e acompanhou-o nessa viagem. Na noite de 14 de abril, com cenas de horror sem precedentes, a princesa de Amon-Ra acompanhou os 1.500 passageiros da embarcação em sua morte, nas profundezas do Oceano Atlântico. O nome do navio era Titanic.

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Fonte: Carlos Alberto Teixeira (colunista de "OGlobo")

Assombração em Hollywood

Elke Sommer com o marido Joe em sua casa em Benedict Canyon, North Beverly Hills.

Os fantasmas não costumam assombrar apenas casas velhas, caindo aos pedaços. Até mesmo mansões milionárias de Hollywood algumas vezes vêem-se às voltas com eles. Essa triste situação era um aborrecimento constante para a atriz alemã Elke Sommer e seu marido, o escritor Joe Hyams, nos anos 60.

O casal chegou à conclusão de que a casa era mal-assombrada, logo depois de a terem adquirido em 1964. A primeira testemunha foi uma jornalista alemã, que estava tomando sol à beira da piscina, quando viu um estranho no jardim.

O homem, aparentemente com mais de 50 anos, estava muito bem vestido, com camisa branca, gravata e terno preto. A jornalista falou a respeito da aparição com seus anfitriões, que ficaram surpresos com o incidente, pois não conheciam ninguém que correspondesse à descrição.

Duas semanas depois, o estranho apareceu uma segunda vez, quando a mãe de Elke Sommer acordou e o viu. A velha já estava se preparando para gritar, quando a figura simplesmente desapareceu.

As duas aparições representaram apenas o começo dos problemas do casal. A partir daquela ocasião, estranhos ruídos passaram a ser ouvidos na casa, altas horas da noite, com freqüência cada vez maior. Eles ouviam curiosos sussurros, e, algumas vezes, tinham até a impressão de que as cadeiras da sala de jantar estavam sendo arrastadas de um lado para outro.

A princípio, Hyams não pensou que o problema pudesse ser causado pelo sobrenatural. Assim, cortou árvores e arbustos para terminar com os ruídos. Contudo, tal providência de pouco valeu. Toda noite, antes de se recolher, ele trancava cuidadosamente portas e janelas, mas, pela manhã, encontrava uma janela, em particular, aberta. Amiúde, Hyams ouvia a porta da frente abrir e fechar durante a noite inteira, porém sempre a encontrava trancada pela manhã. Frustrado, o escritor instalou três pequenos radiotransmissores ao redor da propriedade, mas não conseguiu pegar nenhum gatuno responsável pelos distúrbios noturnos.

Finalmente, na primavera de 1965, Sommer e Hyams deixaram a casa aos cuidados de um caseiro amigo durante viagem à Europa. Por mais que o caseiro trancasse a porta da frente, antes de dormir, ela aparecia escancarada no dia seguinte. E, naquele mês de agosto, o fantasma fez mais uma visita. O caseiro viu um estranho espreitando-o da sala de jantar. O intruso tinha cerca de 1,80 metro, era musculoso e usava camisa e gravata. Assustado, o amigo do casal Hyams pensou tratar-se de um ladrão, até o homem desaparecer diante de seus olhos.

Sem encontrar explicação para o problema, Hyams finalmente entrou em contato com a Sociedade para Pesquisa Psíquica da Califórnia do Sul, entidade que se dedica a estudos mediúnicos, e o caso passou para a dra. Thelma Moss, psicóloga do Instituto de Neuropsiquiatria da Universidade da Califórnia, em Los Angeles. Ela levou vários médiuns para a casa, inclusive alguns sensitivos locais bastante conhecidos, como Lotte van Strahl e Branda Crenshaw. Alguns dos médiuns sentiram imediatamente a presença do fantasma, e suas descrições combinadas corresponderam aos relatos das testemunhas oculares. Como os médiuns não tiveram acesso anterior a todas aquelas informações, a dra. Thelma achou essas correlações extremamente significativas. Os sensitivos descreveram o estranho como um cavalheiro de cinqüenta e poucos anos, que morrera de ataque cardíaco. De alguma forma, ele ficara ligado à casa, e não queria ir embora.

Enquanto as investigações ainda estavam em curso, Hyams fez algumas perguntas aos ex-proprietários. Chegou à conclusão de que eles, também, haviam sido permanentemente assombrados, porém o escritor californiano não se mostrou intimidado com a descoberta.

- Quem quer que seja o fantasma - declarou Hyams em matéria publicada no Saturday Evening Post -, não pretendemos sair assustados de nossa casa.

Mas, finalmente, eles acabaram abandonando a casa. Depois que a psicóloga completou sua investigação, Sommer e Hyams ainda convidaram mais uma médium para investigar a situação da casa. Jacqueline Eastlund visitou a residência em 1966, e então fez a seguinte advertência ao casal:

- Vejo a sala de jantar em chamas no ano que vem. Tenham cuidado.

Exausto, o casal afinal decidiu vender a casa em 1967, mas um misterioso incêndio irrompeu na sala de jantar, antes que eles tivessem mudado. A origem do fogo, assim como da própria assombração, jamais foi explicada.
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Fonte: O Livro Dos Fenômenos Estranhos - Charles Berlitz

O tesouro dos piratas

O fabuloso tesouro dos piratas: escavações na Ilha de Oak em 1897.

Ao largo da costa da Nova Escócia, localiza-se a diminuta e irregular ilha de Oak. No entanto, inversamente proporcional a seu tamanho é o estranho enigma do que existe escondido debaixo da superfície ilusoriamente normal. Dizem que ali há um fabuloso tesouro de piratas, de valor incalculável. As descobertas de exploradores falam de uma possível tragédia e de um trabalho de engenharia realizado por quem quer que tenha escondido o tesouro, sem igual em sua engenhosidade quase sobrenatural.

Qualquer que seja o resultado final, o fato é que por quase duzentos anos a ilha de Oak frustrou todas as tentativas de desvendar seu segredo. Os primeiros a tentar foram Daniel McGinnis e dois amigos, que remaram pela baía Mahone desde o Canadá, em 1795. Em uma clareira no lado oriental arborizado da ilha, eles descobriram o guincho de um velho navio, pendurado em uma árvore solitária, na depressão. Intrigados, cavaram e descobriram a abertura de um túnel de 4 metros de largura. A uma profundidade de 3 metros, os rapazes localizaram a primeira das grossas plataformas de carvalho. Seis metros mais abaixo, encontraram uma segunda plataforma, e a 9 metros, uma terceira.

O trabalho de escavação naquela argila pedregosa exauriu os jovens caçadores de tesouros, tanto física quanto espiritualmente. Outros viriam substituí-los. O trabalho de escavação foi reiniciado em 1804, financiado por Simeon Lynds, abastado morador da Nova Escócia. Os homens contratados por Lynds encontraram mais cinco plataformas de carvalho - a profundidades que iam aumentando em intervalos de 3 metros -, três das quais haviam sido protegidas com resina de navio e fibras de coqueiros. A 27 metros, eles defrontaram com o que ficou conhecido como "a pedra dos números", onde alguns símbolos obscuros foram interpretados por alguém como significando "3 metros abaixo, 10 milhões de dólares estão enterrados".

Dois metros e meio abaixo da pedra dos números, o pé-de-cabra de um dos mineiros bateu em algo sólido, que os homens pensaram ser a arca de tesouro. Após o achado, os homens de Lynds resolveram interromper os trabalhos do dia. Na manhã seguinte, o túnel estava cheio de água a uma profundidade de quase 20 metros.

O buraco do tesouro levou Lynds à falência, assim como causou a ruína de todas as outras expedições similares. Com o passar dos anos, uma quantidade suficiente de provas foi retirada do buraco, inclusive fragmentos de correntes de ouro e indícios de câmaras onde estariam colocadas arcas de madeira, mantendo vivas a curiosidade e a ganância de caçadores de tesouros.

O mistério do buraco do tesouro aumentou ainda mais quando foram descobertos dois canais ligados ao túnel, nas profundidades de 34 e 45 metros. Resguardados por fibras de coqueiros, os dois canais levavam às praias da ilha, onde pareciam servir como esponjas, transportando a água do mar para o túnel principal, inundando-o para sempre. As fibras de coqueiros indicavam que os piratas do tesouro seriam originários do Pacífico Sul.

Caçadores de tesouros continuam a enterrar dinheiro no buraco, correndo risco de vida. Daniel Blankenship, ex-empreiteiro de Miami, dirige as escavações na ilha de Oak como representante da Triton Alliance Ltd., consórcio de 48 membros de ricos financiadores canadenses e americanos. Certa vez ele estava dentro do túnel, quando as proteções metálicas, que sustentavam as laterais 15 metros acima de sua cabeça, começaram a desabar. Os operários conseguiram retirá-lo do buraco poucos segundos antes do desmoronamento total.

Depois de já haver enterrado 3 milhões de dólares no local, Blankenship e a Triton resolveram seguir em frente. David Tobias, presidente da Triton, chegou a declarar:

- O que está em jogo agora é, provavelmente, a escavação mais profunda e mais cara já feita na América do Norte.

O novo plano implica a escavação de imenso túnel de aço e concreto, com largura de 18 a 21 metros e 60 metros de profundidade, que revelará, de uma vez por todas, o que existe no fundo do buraco do tesouro. Custo estimado? Dez milhões de dólares.

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Fonte: O Livro Dos Fenômenos Estranhos - Charles Berlitz

O lobisomem de Botucatu


Mito corrente dos mais populares em todo o território nacional, apresenta curiosas variantes em cada região. De São Paulo, a chamada “zona velha” figura entre as mais ricas em valores folclóricos. Ali, mais precisamente em Botucatu, fizemos estes apontamentos.

É o mais corrente em todo o município e, sem muitas variantes, nos municípios vizinhos de Bofete, Piramboia, Itatinga e Avaré. É igualmente conhecido nas cidades. Um dos primeiros ferroviários a residir em Botucatu, mais tarde aposentado e transferido para Sorocaba, referiu ali a Aloísio de Almeida seu encontro com um lobisomem urbano, à noite, na então rua do Comércio, próximo ao Bosque.

A única característica própria, neste caso, era de que ia o lobisomem muito vagarosamente, como se cansado. Possuía longas orelhas tatalantes, produzindo ruído semelhante ao de matracas e trazia aberta a boca.

Por três maneiras se pode tornar lobisomem: por sina, gosto e mordida. O destino marca inexoravelmente para o lobisomem o sétimo filho homem de um casal qualquer que por incúria ou descrença, não receba como padrinho ao irmão mais velho. Será lobisomem por gosto, e se o desejar, quem depois de vinte anos sentir atração irresistível pelo sangue, excrementos de galinha ou pelas andanças noturnas.

 O processo de encantamentos é comum. Encruzilhada. Sexta-feira. Meia-noite. Espojamento na areia. Nó nas mangas do paletó. A terceira forma é consequência das duas primeiras. Se um lobisomem de qualquer destas espécies morde a canela de um homem, este poderá ou não tornar-se por sua vez um lobisomem segundo o estado de pureza de sua alma. Se a vítima foi um cão e no mês de agosto, estará “louco”. Ficará “arejando” para o resto da vida se o fato ocorrer em qualquer outro mês.

E varia a hora de saída do lobisomem. Aquele que cumpre condenação do destino, já estará a vaguear pelas estradas desde as 10 horas. O voluntário, porém, requer a meia-noite. Câmara Cascudo, em sua Geografia dos mitos brasileiros, refere que já às 23 horas, o lobisomem está transformado. Mas a hora de se recolher é invariavelmente a mesma: duas da madrugada, imediatamente após o cantar dos galos.

Às vezes, o desencantamento ocorre naturalmente: depois de sete anos de fadário, se o infeliz não tiver cometido sacrilégio algum contra igreja ou atacado viúvas. Pode também ser provocado graças a um ligeiro ferimento a faca, atingindo-se, de preferência, as patas dianteiras.

O desencantamento poderá apresentar duas reações: se cumpria disposição do destino, agradece e cumula de bens o autor da façanha; se porém, tratava-se de um lobisomem voluntário, passará a odiar o intrometido contra quem tentará todas as vezes que lhe for possível, pois desde o momento do desencantamento, sua alma estará condenada à perdição. (Note-se aqui, a perfeita driscriminação das reações entre as duas formas de lobisomem. Geralmente, este prisma do mito não se encontra bem elucidado, confundindo-se seriamente os porques do proceder posterior do ex-licantropo).

São bem distintos o lobisomem rural e aquele urbano. Este é, de certa forma, ordeiro. Vive arredio, fugitivo do olhar humano. Vasculha os galinheiros à cata de excrementos recentes de aves de uma cor determinada, teme os cães e rodeia as cozinha sprocurando pela água de barrela que aprecia como sua melhor bebida.

Não é grande corredor e fica largo tempo à espreita das casas e coisas que lhe aptecem. (Talvez se deva ligar os detalhes da paciente espera e das visitas aos galinheiros ao fato de que antigamente, assim procediam os não raros raposões que abundavam pela zona, que a simplicidade da gente impressionável, facilmente identificou com o mito comum).

O lobisomem do campo é que parece condenado a tacar gente. (Qual a razão? Seria simples fato de que o campo, a mata, a treva e as longas extensões desabitadas sempre se prestaram melhor aos encantamentos? Ou o resíduo daquelas práticas sanguinárias que Klabund assinalou muito bem como praticadas pelos camponeses de toda a Europa, na Idade Média?). Possivelmente, também, influência do lobisomem italiano, o lupo mannaro, através de uma contribuição ao nosso folclore graças à larga massa de imigrantes fixados em nosso meio rural.

Bebe até saciar-se, porém sempre agoniado pela necessidade de sustar sua corrida. Quem se vê perseguido por ele encontra abrigo nos cemitérios ou pátios de capelas. Não teme símbolos individuais de proteção, nem exorcismos, mas uma cruz preparada com barba de bode e em seguida benta pela Quaresma mantém-no afastado de casa.

Os padres e, especialmente, a mãe do infeliz podem reconhecer seu drama, mesmo quando não no couro da fera. Moço que toda manhã de sábado (notem o dia da semana) amanhece sofrendo náuseas denuncia-se. Pior ainda se for magro, pálido, fastidioso, com só os olhos estranhamente luminosos.

Não ataca gente de seu sangue, mas, se casado, a esposa corre de contínuo risco. Somente pode salvar-se na fuga e nada a livrará da morte se alcançada e dominada por ele. (Influência, talvez e longínqua, do lobisomem gaúcho — um despeitado que paga o castigo de haver sido infiel com uma comadre da esposa).

Tamanho e forma? Aproxima-se mais de um perdigueiro médio. Cabeça sempre baixa, de ordinário trote regular, boca desmesuradamente aberta. E o característico infalível: enormes orelhas balouçantes, provocando o ruído que gera pavor e ao mesmo tempo serve como aviso.

Existem na mesma região paulista variações interessantes do e sobre o mito tão popular. Voltaremos para tratar delas.
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Fonte: NEVES, Guilherme Santos. “Folclore”. A Gazeta. Vitória, 07 de julho de 1963

Lobisomem


O mestre Luís da Câmara Cascudo, em seu Dicionário do folclore brasileiro, ao focalizar o verbete Lobisomem, nos diz da longevidade do mito universal, registrado, desde a mais remota antiguidade, por Plínio, o antigo, Heródoto, Plauto, Varrão, Santo Agostinho, Ovídio etc. etc. — mito que, — por universal — também se localizou na Península Ibérica, espantando a espanhóis e portugueses. De lá é que, certamente, nos veio, dentro das primeiras caravelas lusitanas.

De Portugal, cita o mestre um verso no Cancioneiro geral, de Garcia de Resende (1516), verso do poeta Álvaro de Brito Pestana: “Sois danado lobisomem…” referente à crença lusa, segundo a qual o lobisomem é filho de comadre e compadre, ou de padrinho e afilhada. E pinta-lhe o retrato: “como homem: extremamente pálido, magro, macilento, de orelhas compridas e nariz levantado”; como animal, lobo, mas um lobo feio e mau, “um bicho grande, bezerro de alto porte, com imensas orelhas”.

O lobisomem continua a sua secular caminhada, o seu triste e sangrento fadário através do mundo. Está presente no folclore do Brasil e, da mesma forma, no folclore capixaba.

Por aqui, sabe e diz o povo que:

• o lobisome é bicho horrível, que carrega a gente;

• certas pessoas (homens, principalmente) viram lubisome às sextas-feiras de lua;

• quem entrar na igreja depois da meia-noite vira lubisome;

• o diabo, na noite de Sexta-feira Santa vira lubisome e vem para os quintais comer as galinhas, precisamente à meia-noite;

• nas sextas-feiras da Quaresma, não se deve deixar fora, expostas, as cascas de caranguejo (da torta); deve-se enterrá-las, para que não venha o lobisome lambê-las. Também corre, entre nós, esta crendice generalizada em todo o Brasil;

• Quem tem sete filhos seguidos (encarreirados), um deles ou o último será lubisome  (Crendice recolhida na Serra, em Santa Leopoldina e Vitória, mas, certo, corrente em quase todo o Espírito Santo).

Há, porém, um processo para evitar esse fado horrível: é o mais velho dos sete filhos ser o padrinho de batismo do último; com isso, desvia-se deste o destino terrível.

Já vi um lobisomem. Já o vi com estes olhos que a terra (breve) há de comer. Foi em Conceição da Barra. Guardei até o dia preciso: 1º de fevereiro de 1959. Feio, arrastando-se no chão, cabeça enorme e o corpo coberto de capim e estopa, o lobisomem que eu vi latia feito um cão danado, latidos surdos, ganidos como se ladrasse à lua. Na ocasião, alguns “marujos” assoviavam para ele, chamando-o ou atiçando-lhe a raiva, e também cantavam, ao som de pandeiros.

Evém, evém
Evém lubisome
Evém…


Aí o bicho beio mesmo, rastejando, “caçando” as pernas da gente, até que os mesmos “marujos” cantaram:

Evai, evai
Evai, lubisome
Evai…


E ele lá se foi, arrastando-se como viera, sob os risos, apupos e aplausos dos que presencíavamos a bela exibição do famoso Reis-de-boi de Santa (povoação pobrezinha, a quatro quilômetros de Conceição da Barra).
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Fonte: Jangada Brasil in: "Neves, Guilherme Santos. “Folclore”. A Gazeta. Vitória, 07 de julho de 1963".