O Alquimista - Pintura de Sir William Fettes Douglas (1822 - 1891) |
Os preceitos e axiomas alquímicos encontram-se condenados na misteriosa “Tábua Esmeraldina” (a esmeralda era considerada como a pedra preciosa mais formosa e mais cheia de simbolismo: a flor do céu), um dos quarenta e dois livros da doutrina hermética atribuídos a Hermes Trimegisto.
Hermes "Trismegisto" (isto é, três vezes grande) é identificado como sendo o deus egípcio Toth, que é uma representação do poder intelectual. Referências a ele já existiam nos tempos do filósofo Platão, por volta do ano 400 a. C.. Diz a lenda que os preceitos de Hermes foram gravados em uma esmeralda, o que deu origem ao nome "Tábua de Esmeralda". Os preceitos e ensinamentos de Hermes pautaram o trabalho dos alquimistas, que em suas obras faziam referências à Tábua de Esmeralda pelo seu nome latinizado, Tábula Smaragdia.
São preceitos metafísicos bastante avançados e complexos, de forma que só eram compreendidos pelos iniciados. Do nome de Hermes derivou o termo "hermético" e o "hermetismo", que significam "aquilo que é fechado, restrito". Algo que é hermeticamente fechado significa inacessível. Ensinamentos herméticos são restritos aos iniciados e pessoas comprometidas com determinada área do ocultismo.
Os sábios que dedicaram sua vida inteira à pesquisa alquímica pretendiam transformar os materiais opacos em metais brilhantes e nobres. Em suas recolhas de laboratórios realizavam valiosas pesquisas e idealizaram uma linguagem cheia de símbolos indecifráveis para, deste modo, burlar a vigilância a que estavam submetidos por parte daqueles regulamentos sociais, que em todos os tempos tem considerado como tarefa prioritária a perseguição, ou desqualificação daqueles que se atrevem a discordar e não compartilhar dos convencionalismos. Os grandes personagens do pensamento hermético e esotérico anotavam sua investigações em códigos e as chaves decifradoras só eram conhecidas pelos iniciados. Com isso muitos alquimistas se separavam da sociedade, formando seitas secretas e seu engajamento era feito através de juramentos:
“Eu te faço jurar pelos céus, pela terra, pela luz e pela trevas; Eu te faço jurar pelo fogo, pelo ar, pela terra e pela água; Eu te faço jurar pelo mais alto dos céus, pelas profundezas da terra e pelo abismo do tártaro; Eu te faço jurar por Mercúrio e por Anubis, pelo rugido do dragão Kerkorubos e pelo latido do cão de três tetas, Cérbero, guardião do inferno; Eu te conjuro pelas três Parcas, pelas três fúrias e pela espada a não revelar a pessoa alguma nossas teorias e técnicas”.
Devido às suas origens, a alquimia apresentou um caráter místico, pois absorveu as ciências ocultas da Mesopotâmia, Pérsia, Caldéia, Egito e Síria. A arte hermética da alquimia já nasceu em lenda e mistério. Os alquimistas usavam fórmulas e recitações mágicas destinadas a invocar deuses e demônios favoráveis as operações químicas. Por isso muitos eram acusados de pacto com o demônio, presos, excomungados e queimados vivos pela Inquisição da Igreja Católica.
Por questão de sobrevivência, os manuscritos alquímicos foram elaborados em formas de poemas alegóricos, incompreensíveis aos não iniciados. Mais de dois mil anos antes do início da nossa era, os babilônios e os egípcios, procuravam obter ouro artificialmente, e já se interessavam pela transformação dos metais em ouro. Nessa época, a prática da alquimia era realizada sob o mais absoluto dos segredos, pois era considerada uma ciência oculta. Sob a influência das ciências advindas do Oriente Médio, os alquimistas passaram a atribuir propriedades sobrenaturais às plantas, letras, pedras, figuras geométricas e os números eram usados como amuletos, como o 3, o 4 e o 7.
Em função das condenações proclamadas pela Igreja Católica aos alquimistas, durante a Idade Média, o cheiro de enxofre passou a ser associado ao diabo. Os alquimistas faziam suas experiências com enxofre comum, sendo denunciados pelos fortes cheiros emanados de suas casas ou laboratórios, o que permitia que fossem facilmente detectados e acusados de bruxaria e pacto com o demônio, pondo fim aos seus trabalhos.
É também digno de registro a criação de Drácula, o vampiro, acusado de obter longevidade às custas do sangue humano. Seu surgimento não passou de uma bem sucedida tentativa para desmoralizar uma ordem mística alquimista, surgida na Idade Média, que trabalhava na obtenção do elixir da longevidade.
Importante também, é enumerar as muitas descobertas feitas por alquimistas em seus laboratórios, nas suas tentativas para atingir a Pedra Filosofal: Água-régia (mistura de ácido nítrico e clorídrico), arsênico, nitrato de prata (que produz ulcerações no tecido animal), acetato de chumbo, bicarbonato de potássio, ácidos sulfúrico, clorídrico, canfórico, benzóico e nítrico, sulfato de sódio e de amônia, fósforo, a potassa cáustica (hidróxido de potássio, que permitia a fabricação de sabões), entre muitas outras coisas que possibilitaram a evolução da humanidade.
O sucesso da alquimia na Europa se deve aos árabes, que introduziram idéias místicas acompanhadas por avanços práticos no procedimento químico como a destilação e a descoberta de novos metais e componentes.
Fonte: http://www.cdcc.usp.br/ciencia/artigos/art_25/alquimia.html