sexta-feira, 20 de abril de 2012

O Livro Negro de São Cipriano


O famoso Livro de São Cipriano foi redigido antes de sua conversão, mas o mistério que envolve a vida do Santo interfere também em seu livro. Uma parte dos manuscritos foi queimada por ele mesmo. A questão é que não se sabe quando, e por quem os registros foram reunidos e traduzidos do hebraico para o latim, e posteriormente levados para diversas partes do mundo.

No decorrer dos anos, o conteúdo sofreu alterações significativas. Houve uma adaptação de acordo com as necessidades e possibilidades contemporâneas; além da adequação necessária na tradução para os vários idiomas. Esses fatores colocam em dúvida a fidelidade das versões recentes, se comparadas às mais antigas.

Atualmente, não é possível falar do Livro, mas sim dos Livros de São Cipriano. As edições capa preta e capa de aço; ou aquelas intituladas como o autêntico, o verdadeiro, ou o único, enfatizam um mesmo acervo mágico central, e ainda exaltam o cristianismo e a vitória do bem sobre o mal. Porém, existem grandes diferenças no conteúdo. Enquanto alguns exemplares apresentam histórias e rituais inofensivos, outros apelam para campos negativistas e destrutivos da magia.

Num aspecto geral, encontra-se instruções aos religiosos para tratar de uma moléstia, além de cartomancia, esconjurações e exorcismos.

Fonte: Qual Seu Medo?

São Cipriano: Santo e Feiticeiro


A lenda de São Cipriano confunde-se com outro célebre Cipriano imortalizado na Igreja Católica, conhecido como Papa Africano. Apesar do abismo histórico que os afasta, as lendas combinam-se e os Ciprianos, muitas vezes, tornam-se um só na cultura popular. É comum encontrarmos fatos e características pessoais atribuídas equivocadamente. Além dos mesmos nomes, os mártires coexistiram, mas em regiões distintas.

Filho de pais pagãos e muito ricos nasceu em 250 d.C. na Antioquia, região situada entre a Síria e a Arábia, pertencente ao governo da Fenícia. Desde a infância, Cipriano foi induzido aos estudos da feitiçaria e das ciências ocultas como a alquimia, astrologia, adivinhação e as diversas modalidades de magia.

Após muito tempo viajando pelo Egito, Grécia e outros países aperfeiçoando seus conhecimentos, aos trinta anos de idade Cipriano chega à Babilônia a fim de conhecer a cultura ocultista dos Caldeus. Foi nesta época que encontrou a bruxa Évora, onde teve a oportunidade de intensificar seus estudos e aprimorar a técnica da premonição. Évora morreu em avançada idade, mas deixou seus manuscritos para Cipriano, dos quais foram de grande proveito. Assim, o feiticeiro dedicou-se arduamente, e logo se tornou conhecido, respeitado e temido por onde passava.

Vivia em Antioquia a bela e rica donzela Justina. Seu pai Edeso e sua mãe Cledonia, a educaram nas tradições pagãs. Porém, ouvindo as pregações do diácono Prailo, Justina converteu-se ao cristianismo, dedicando sua vida as orações, consagrando e preservando sua virgindade.

Um jovem rico chamado Aglaide apaixonou-se por Justina. Os pais da donzela, agora já convertidos à fé cristã, concederam-na por esposa. Porém, Justina não aceitou casar-se. Aglaide recorreu a Cipriano para que o feiticeiro aplicasse seu poder, de modo que a donzela abandonasse a fé e se entregasse ao matrimônio.

Cipriano investiu a tentação demoníaca sobre Justina. Fez uso de um pó que despertaria a luxúria, ofereceu sacrifícios aos demônios e empregou diversas obras malignas. Mas não obteve resultado, pois Justina defendia-se com orações a Deus e o sinal da cruz.

A ineficácia dos feitiços fez com que Cipriano se desiludisse profundamente perante sua fé pagã e se voltasse contra o demônio. Influenciado por um amigo cristão de nome Eusébio, o bruxo converteu-se ao cristianismo, chegando a queimar seus manuscritos de feitiçaria e distribuir seus bens entre os pobres.

A fantástica trajetória do Feiticeiro e Santo da Antioquia, representa o elo entre Deus e o Diabo, entre o puro e o pecaminoso, entre a soberba e a humildade. São Cipriano é mais que um personagem da Igreja Católica ou um livro de magia; é um símbolo da dualidade da fé humana.

Martirizado e canonizado, sua popularidade excedeu a fé cristã devido ao famoso Livro de São Cipriano, um compilado de rituais de magia. Seu dia é celebrado em 2 de Outubro.

Fonte: Artigonal; Wikipédia.

A epidemia do Suor Inglês


O suor inglês conhecido como sudor anglicu, atacou a Inglaterra cinco vezes. Foi uma epidemia devastadora que entre 1485 e 1551 matou 3 milhões de pessoas. A epidemia sempre vinha no verão, o suor matava em até 24hrs, as vezes em apenas 3hrs.

O relato feito pelo italiano Polydore Vergílio em 1485, um dos primeiros conhecidos da doença, é assustador:

“Em 1485 uma nova doença atingiu todo o reino…uma pestilência de fato horrível…repentinamente um suor fatal ataca o corpo, devastando-o com dores na cabeça e no estômago agravadas pela terrível sensação de calor. Em decorrência disso, os pacientes retiravam tudo o que os cobria; se estivessem vestidos, arrancavam as roupas, os sedentos bebiam água, outros sofriam dessa febre fétida provocada pelo suor, que exalava um odor insuportável…todos morriam imediatamente ou pouco tempo depois do suor começar; de tal modo, que um em cada centena escapava”.

O relato do médico real John Caius, feito em 1552, logo após a última epidemia, é mais técnico, mas nem por isso menos assombroso:

“Primeiro a dor nas costas e nos ombros, dor nas extremidades, como braços e pernas, com ardor ou espasmo, como se apresentava em alguns pacientes. No segundo momento apareciam as dores no fígado e nas proximidades do estômago. Na terceira fase surgia uma dor de cabeça acompanhada de insanidade. Na quarta, o sofrimento do coração…pacientes respirando aceleradamente e com dificuldade…com a voz ofegante e lamuriosa…não resistiam mais do que um dia.”

Os tratamentos eram inúteis, as pessoas chegaram a "conclusão" que para salvar a pessoa, tinha que faze-la suar ainda mais para "expulsar" a doença. Com isso quando alguém apresentava o primeiro sintoma era coberto por roupas, mantas e cobertores. Em pouco tempo a pessoa tinha febre, muito suor e morria. Os familiares achavam que não tinham começado o "tratamento" a tempo.Lutero foi um dos poucos que contraiu a estranha doença e sobreviveu em 1529Em 1551 a doença desapareceu tão misteriosamente quanto havia se iniciado...

Fonte: Lendas e Mistérios.

As melhores lendas do mundo


Cavalo de Tróia
Ilíada

A Ilíada narra os acontecimentos envolvendo as disputas entre gregos, troianos e deuses em torno da conquista de Tróia, fato que teria ocorrido por volta do ano 1.200 antes de Cristo. O texto escrito provavelmente quatro séculos depois é atribuído a Homero, que pode ser o autor também da Odisséia, outra importante narrativa épica. Em quase 16 mil versos divididos em 24 cantos, a Ilíada mostra a fase final das batalhas entre gregos e troianos, num conflito em que os deuses do Olimpo tomaram partido e se envolveram nas disputas.

No centro da trama está a cólera de Aquiles, um invencível herói grego, filho da deusa Tétis, dotado de força e valentia sobre-humanas, mas que não é imortal. Sua ira inicial é contra Agamenon, líder do exército grego, que lhe roubou Briseida, integrante da realeza de Tróia capturada pelos gregos e pela qual Aquiles se apaixonou. Após essa afronta, ele e seus lendários soldados mirmidões se retiram do combate contra os troianos. A saída de Aquiles marca o início das vitórias dos exércitos de Tróia, liderados pelo príncipe Heitor, irmão de Páris que ao fugir com Helena, esposa do rei grego Menelau, iniciou a guerra entre os dois povos.

Mas a cólera de Aquiles se voltaria novamente contra os troianos após eles matarem Pátroclo, seu melhor amigo. A fúria de Aquiles principalmente contra Heitor levará os gregos à vitória. Mas o orgulho e a falta de piedade de Aquiles serão postos à prova no final, num processo que mostrou a humanização do até então invencível herói grego.

A “Ilíada” foi reconhecida como a narrativa da primeira grande aventura dos gregos como um povo unido, além de mostrar a primeira vitória da civilização “européia”. Os valores envolvidos na guerra, como honra, orgulho e glória, e as manifestações da alma, como as paixões, a dor pelas perdas e a consciência da finitude do ser humano, fizeram da “Ilíada” uma lenda universal.

Rei Arthur

Há muitas dúvidas sobre a real existência do Rei Arthur, mas alguns historiadores e arqueólogos já consideram que um heróico guerreiro com tais características pode ter existido entre os séculos 5 e 7. Entre outras possibilidades, ele poderia ter sido um rei galês ou um militar romano. Sua proeza teria sido liderar os habitantes da atual Grã-Bretanha contra invasores.

Desde então, começou-se a construir a lenda sobre um rei dos bretões, líder de virtuosos cavaleiros que se reuniam em torno de uma mesa redonda. O primeiro registro histórico sobre Arthur aparece na obra “Historia Britonnum”, escrita por Nennius em 796. Ele teria conduzido seu povo à liberdade após vencer doze batalhas contra cruéis invasores.

Os folclores galês e celta forneceram à lenda do rei Arthur elementos místicos e históricos. Entre eles, a figura do mago Merlin, da Dama do Lago, da espada Excalibur e da ilha mágica de Avalon. Ao longo dos séculos com a crescente influência do Cristianismo a lenda se fundiu com a da busca do Santo Graal, sendo Arthur e seus cavaleiros incumbidos de buscarem o cálice sagrado. Essas inúmeras influências fizeram com que a história ganhasse uma série de variações.

A popularidade da narrativa fora da Grã-Bretanha se deu a partir da publicação da obra “Historia Regum Britanniae”, escrita por Geoffrey de Monmouth no século 12. Desde então, foram incorporados temas como o relacionamento adúltero entre Lancelot, um dos cavaleiros da Távola Redonda, e Guinevere, a esposa de Arthur, ou o fato de que ele precisou retirar Excalibur de uma rocha para provar ser o herdeiro do trono.

Nessa lenda que narra a união do povo que formaria a Grã-Bretanha, a luta do bem contra o mal e o poder do amor são os principais temas, e são também o motivo dela continuar a gerar inúmeras versões literárias e cinematográficas. Clique aqui e leia mais sobre a lenda do Rei Arthur.

Fausto

A trajetória de um homem que viveu onde hoje é a Alemanha no século 16 está na origem de uma das mais famosas e influentes lendas de todos os tempos. Segundo os testemunhos de vários contemporâneos a ele, um homem conhecido como Fausto era um viajante charlatão que se aproveitou da credulidade e da superstição de pessoas ignorantes. Suas habilidades em ganhar dinheiro, suas ligações com magia negra, sodomia e adivinhações e sua morte repentina e violenta foram relatados como fruto de seu pacto com o Diabo.

A lenda de Fausto não foi a primeira a narrar sobre os acordos entre homens e Satanás, em que trocavam suas almas por poder, riqueza e conhecimento. Desde os primeiros tempos do Cristianismo esses pactos eram comumente relatados na cultura popular. Mas foi a história de Fausto a que acabou se consolidando como a mais famosa lenda sobre o assunto. Em 1587, foi publicada a primeira versão literária na qual Johan Fausten, um ex-estudioso de teologia ávido por ter todas as coisas no céu e na Terra, fez um pacto com Mefistófeles. Além disso, uma versão teatral da lenda, escrita no começo do século 17 pelo dramaturgo inglês Christopher Marlowe, ajudou a tornar cada vez mais popular pela Europa a história de Fausto.

Mas a versão definitiva viria com a obra-prima escrita entre 1808 e 1832 pelo autor alemão Johann Wolfgang von Goethe. O Fausto de Goethe mistura filosofia, teologia, mitologia, ciência, economia para transformar a lenda numa metáfora do Iluminismo e da cultura ocidental. A lenda de Fausto continuou a ganhar versões na literatura, dramaturgia, música erudita, ópera e cinema. E pensar que tudo começou com a versão popular da vida de um obscuro homem ambicioso de má reputação, que foi contemporâneo de gente famosa como Nostradamus, Paracelso e Martinho Lutero.

Drácula

A lenda de criaturas imortais que deixam seus sepulcros durante a noite na forma de morcegos para sugar o sangue dos humanos se tornou popular durante o século 18 no Reino da Hungria, que incluía a Transilvânia. A narrativa ganharia o mundo no final do século 19 com a versão literária feita pelo irlandês Bram Stoker. Em “Drácula”, Stoker deu formas góticas ao conto folclórico que assombrava a população eslava.

Os eslavos acreditavam que os mortos que não se decompunham na sepultura tornavam-se vampiros. Para evitar que isso acontecesse eram feitos rituais pagãos em que uma estaca era fincada na sepultura de forma a atravessar o coração do morto ou o corpo era exumado e queimado. O folclore da região sobre vampiros se misturou com as narrativas sobre a vida de um personagem histórico para alimentar as lendas.

No século 15, o príncipe Vlad III Drácula, o Empalador, reinou onde hoje é a Romênia cometendo atrocidades, como tortura, empalar e beber o sangue de seus inimigos. Drácula lutou contra a nobreza e o domínio do Império Otomano na região e por isso tornou-se um herói popular no folclore da Transilvânia. Talvez influenciado pela história do príncipe e muito pelas lendas locais sobre vampiros, Stoker construiu uma narrativa que se tornaria um dos pontos altos do estilo gótico no Romantismo.

Desde então, as histórias sobre vampiros espalharam-se pelo mundo e a lenda continua a ganhar diferentes versões na literatura, nos quadrinhos, no cinema, nas séries televisivas. Mas em todas elas há sempre elementos dos contos populares eslavos, como na forma de se matar um vampiro ou na sua aparência pálida e com dentes protuberantes. Na lenda original, viravam vampiros após a morte os criminosos, hereges e suicidas. Seus pecados em vida os condenavam a serem almas atormentadas pela eternidade.

Fonte: Max Mega Curiosidades.

As lendas


Ruínas de Tróia das narrações da "Ilíada"
As lendas se relacionam a fatos históricos, cheias de heróis fantásticos e acontecimentos sobrenaturais, transmitidas durante séculos oralmente de geração para geração. Apesar de estarem associadas a uma determinada região ou a uma personalidade histórica, muitas delas viajam o mundo sendo contadas por diferentes culturas.

Provavelmente tudo começou pouco antes da existência da Babilônia. Há cerca de quatro mil anos, contava-se por lá a história de um heróico rei sumério. Seu nome era Gilgamesh e ele tinha sido o quinto rei da cidade-estado de Uruk, localizada na Mesopotâmia, região onde hoje é o Iraque. A lenda sobre ele narra a odisséia de um rei que não queria morrer.

Filho da deusa Ninsum, ele seria parte divino e parte humano. Guerreiro detentor de uma força espetacular, Gilgamesh teria reinado numa época logo após o Dilúvio, quando enfrentou e venceu várias criaturas e armadilhas criadas por homens e deuses. Em sua jornada buscou aprender a como escapar da morte. A saga de Gilgamesh é considerada por historiadores a mais antiga lenda contada pela humanidade. Ela teria influenciado desde o Antigo Testamento até obras como “O Senhor dos Anéis”, de J.R.R. Tolkien.

Na narrativa sobre Gilgamesh já é possível identificar que uma lenda mistura elementos de mitologia, religião e folclore. De qualquer forma, a rigor ela sempre tem alguma base histórica, ainda que os fatos reais sejam transformados em acontecimentos fantásticos pela imaginação popular. 

Mas as lendas não fazem parte apenas de um tempo em que deuses, demônios e outras forças sobrenaturais assombravam os homens. Mesmo nos dias atuais, na era do conhecimento, quando a ciência se sobrepõe a superstições, novas lendas continuam a ser criadas pela cultura popular. As versões modernas dessas narrativas são conhecidas como lendas urbanas.

Como diz o dito popular "Quem conta um conto aumenta um ponto", elas, pelo fato de serem repassadas oralmente de geração a geração, sofrem alterações à medida que vão sendo recontadas.

Lendas no Brasil são inúmeras, influenciadas diretamente pela miscigenação na origem do povo brasileiro. Devemos levar em conta que uma lenda não significa uma mentira, nem tão pouco uma verdade absoluta, o que devemos considerar é que uma história para ser criada, defendida e o mais importante, ter sobrevivido na memória das pessoas, ela deve ter no mínimo uma parcela de fatos verídicos.

Muitos pesquisadores, historiadores, ou folcloristas, afirmam que elas são apenas frutos da imaginação popular, porém como sabemos as lendas em muitos povos são "os livros na memória dos mais sábios". Mas, seja tradicional ou contemporânea, o que tem feito uma lenda se tornar popular e universal é a sua capacidade de, ao misturar fatos ou personagens históricos com elementos mágicos numa narrativa fantástica, interpretar os mais essenciais valores e sentimentos humanos.

Fontes: Wikipédia; HowStuffWorks.

Anfisbena

Anfisbena, palavra grega, que significa "que vai em duas direções", do (amphis), que significa "ambos os caminhos", e (bainein), que significa "ir", também chamado a Mãe das Formigas, é uma serpente mitológica, que come formigas e com uma cabeça em cada ponta.

Segundo a mitologia grega, a Anfisbena nasceu do sangue que gotejou da cabeça de Górgona Medusa quando Perseu voou por cima do Deserto da Líbia, com ela em suas mãos.

Foi então que o exército de Cato encontrou-a junto com outras serpentes em sua marcha. A Anfisbena alimentou-se dos cadáveres deixados para trás.

Ela tem sido citada por poetas, como Nicandro de Cólofon, John Milton, Alexander Pope, Alfred Tennyson, e Alfred Edward Housman, e a Anfisbena como uma criação mitológica e lendária foram citados por Lucano, Caio Plínio Segundo, Isidoro de Sevilha, e Thomas Browne, os últimos dos quais desiludiram a sua existência.

Aparência

“A Amphisbaena tem cabeça dupla, uma que está na extremidade da cauda, bem, como se não fosse o suficiente para ser envenenado por uma boca" (Caio Plínio Segundo. Naturalis Historia, circa 77 AD). Porém, os desenhos medievais e posteriores muitas vezes mostram-na com dois ou mais pés escamosos, em particular pés de frango e asas emplumadas. Alguns até representam-na como uma criatura chifruda, semelhante a um dragão com o rabo de cabeça-de-serpente e orelhas pequenas e redondas, enquanto outras têm os dois "pescoços" do mesmo tamanho para que não possam ser distinguido qual é a cabeça traseira.


Muitos relatos da Anfisbena dizem que seus olhos incandescem como luz de velas ou como relâmpago, mas o poeta Nicandro parece contradizer isto descrevendo-a como "sempre de olho fosco". Ele também diz que "de uma ponta a outra sobressai um queixo embotado; cada um é distante um do outro." O relato de Nicandro de Cólofon parece estar se referindo ao que de fato é chamado de Anfisbena.

Fonte: Wikipédia.

Bacantes e mênades

Juventude de Baco - Pintura de 1884, de William-Adolphe Bouguereau (1825–1905).

Na mitologia grega, as Mênades, (de mainomai, ”enfurecido”), também conhecidas como bacantes, tíades ou bassáridas, eram mulheres seguidoras e adoradoras do culto de Dioniso (ou Baco, na mitologia romana). Eram conhecidas como selvagens e endoidecidas, de quem não se conseguia um raciocínio claro.

Durante o culto, dançavam de uma maneira muito livre e lasciva, em total concordância com as forças mais primitivas da natureza.

Os mistérios que envolviam o deus provocavam nelas um estado de êxtase absoluto, entregando-se a desmedida violência, derramamento de sangue, sexo, embriaguez e autoflagelação.

Em geral, as bacantes são representadas com um tirso feito com um caule de ferula (Ferula communis, família Apiaceae) encimado por uma pinha (Pinus spp., família Pinaceae) e coroadas com uma grinalda de hera (Hedera helix, família Araliaceae).

Uma célebre peça de teatro grego tem como título “As Bacantes” e foi escrita por Eurípides (c.480-406 a.C.). Um pequeno trecho desta peça, referente ao coro: “…As bocas sem freio e a loucura sem lei abismam-se no infortúnio. A vida tranquila e a sabedoria conservam-se ao abrigo do desgaste e garantem a sua duração. Por muito longe que os deuses celestes habitem no Éter, eles vêem as obras dos mortais. Sofismas não são sabedoria, como não o é ter os sentimentos de um simples mortal. A vida passa breve. Porquê vivermos o dia presente com demasiadas ambições? São assim os insensatos e os homens de mau conselho…”.

Na obra intitulada "Dionisíacas" são citadas dezoito mênades:

01 - Egle - o esplendor
02 - Calícore - a formosa dança;
03 - Eupétale - as belas pétalas;
04 - Ione - a harpa;
05 - Cálice - a taça;
06 - Bruisa - a florescente;
07 - Silene - a lunar;
08 - Rode - a rosada;
09 - Oquínoe - a mente veloz;
10 - Ereuto - a corada;
11 - Acrete - o vinho sem mistura;
12 - Mete - a embriaguez;
13 - Enante - a foice;
14 - Arpe - a flor do vinho;
15 - Licaste - a espinhosa;
16 - Estesícore - a bailarina;
17 - Prótoe - a corredora;
18 - Trígie - a vindimadora;

Fontes: Etnobiodiversidade.blogspot.com.br; Wikipédia.

Borametz

Ilustração do século XVII

O Borametz ou cordeiro vegetal da Tartária, também chamado de Borametz e Polypodium borametz e polipódio chinês, é uma planta com a forma de um cordeiro, coberta de penugem dourada. Eleva-se sobre quatro ou cinco raízes. As plantas morrem ao redor dela, enquanto ela se mantém louçã. Quando a cortam, sai um sumo sangrento. Os lobos têm prazer em devorá-la.

Sir Thomas Browne descreve-a no livro III na obra Pseudodoxia Epidemica (Londres, 1646). Em outros monstros combinam-se espécies ou gêneros animais, enquanto no Borametz, o reino vegetal e o reino animal.

Recordemos a esse propósito a Mandrágora que grita como um homem quando arrancada, a triste selva dos suicidas, num dos circulos do Inferno, de cujos troncos feridos brotam ao mesmo tempo sangue e palavras, e a árvore sonhada por Chesterton, que devorou os pássaros que haviam feito ninho em seus ramos e que, na primavera, deu penas ao inves de folhas.

Fonte: Fantastipédia.

A lenda dos Gremlins


Um gremlin é uma criatura mitológica de natureza malévola popular na tradição saxã. O nome gremlin provém do inglês antigo grëmian, que significa “irritar” ou “incomodar”. Também está relacionado com grim, “sinistro”, e no termo alemão, grämen, “confusão”.

Os gremlins são populares como criaturas capazes de sabotar qualquer tipo de equipamento. A popularidade dos gremlins veio de uma história contada entre os pilotos da RAF (Força Aérea Britânica) a serviço no Oriente Médio durante a Segunda Guerra Mundial. Esses seres seriam uma forma de explicar os frequentes acidentes que aconteciam durante os vôos, as estranhas quedas que ocorriam na ausência de ataques inimigos.

Foram feitos dois filmes sobre essas criaturas, mostrando todos os seus aspectos críticos: Gremlins (Joe Dante, 1984) e Gremlins 2 (Joe Dante, 1990).

Os gremlins nesses filmes são apresentados em duas fases: a Mogwai, que seria o estágio infantil destes seres, no qual são quase inofensivos, e Gremlins, que são muito perigosos. Diz-se também que existem três coisas que não pode ser feito com um Gremlin ou Mogwai e deve ser evitado a todo custo para que tudo corra bem. A primeira é que a luz não deve ser administrada diretamente a eles, pois a odeiam: não se deve dar a luz do sol, sob o risco de ser morto. A segunda é que eles nunca devem entrar em contato com a água, pois quando isso ocorre com um Mogwai, saem bolas de pelos de suas costas, e assim ele se reproduz, em cópias parecidas, porém, mais travessas. Mas o que jamais se deve fazer a um Mogwai é alimentá-lo depois da meia noite, realizando assim a metamorfose, da fase infantil (Mogwai) para o adulto (Gremlin), encapsulando-se em uma pupa, como uma borboleta.

Eles também tiveram aparições em desenhos animados da Warner Bros, e da mesma no filme "Twilight Zone" , que apresenta uma criatura mais assustadora e letal.

Os gremlins também apareceram na expansão do jogo eletrônico Quake intitulada "Quake:Scourge of Armagon".No jogo,eles podem roubar a arma que o jogador estiver usando no momento e usá-la contra este.

Fonte: Wikipédia.

Apolônio de Tiana

Apolônio de Tiana (Tiana, 13 de março de 2 a.C. – Éfeso, c. 98), filósofo neo-pitagórico e professor de origem grega, influenciou, com seus ensinamentos, o pensamento científico por séculos após a sua morte.

A principal fonte sobre a sua biografia é a "Vida de Apolônio", de Flávio Filóstrato, na qual alguns estudiosos identificam uma tentativa de construir uma figura rival à de Jesus Cristo. Apolônio também é citado nas obras "A Vida de Pitágoras", de Porfírio, e "A Vida Pitagórica", de Jâmblico. Acredita-se ainda que ele seja o personagem "Apolo", citado na Bíblia em Atos dos Apóstolos e I Coríntios.

Apolônio foi vegetariano e discípulo de Pitágoras, com base no seu escrito, abaixo:

"Por mim discerni uma certa sublimidade na disciplina de Pitágoras, e como uma certa sabedoria secreta capacitou-o a saber, não apenas quem ele era a si mesmo, mas também o que ele tinha sido; e eu vi que ele se aproximou dos altares em estado de pureza, e não permitia que a sua barriga fosse profanada pelo partilhar da carne de animais; e que ele manteve o seu corpo puro de todas as peças de roupa tecidas de refugo de animais mortos; e que ele foi o primeiro da humanidade a conter a sua própria língua, inventando uma disciplina de silêncio descrito na frase proverbial, 'Um boi senta-se sobre ela.' Eu também vi que o seu sistema filosófico era em outros aspectos oracular e verdadeiro. Então corri a abraçar os seus sábios ensinamentos…"

Nascido na cidade de Tiana (Turquia), na província da Capadócia, na Ásia Menor, então integrante do Império romano, alguns anos antes da era cristã, foi educado na cidade vizinha de Tarso, na Cilícia, e no templo de Esculápio em Aegae, onde além da Medicina se dedicou às doutrinas de Pitágoras, vindo a adotar o ascetismo como hábito de vida em seu sentido pleno.

Após manter um juramento de silêncio por cinco anos, ele partiu da Grécia através da Ásia e visitou Nínive, a Babilônia e a Índia, absorvendo o misticismo oriental de magos, brâmanes e sacerdotes. Durante esta viagem, e subsequente retorno, ele atraiu um escriba e discípulo, Damis, que registrou os acontecimentos da vida do filósofo. Estas notas, além de cobrirem a vida de Apolônio, compreendem acontecimentos relacionando a uma série de imperadores, já que viveu 100 anos. Eventualmente essas notas chegaram às mãos da imperatriz Julia Domna, esposa de Septímio Severo, que encarregou Filóstrato de usá-las para elaborar uma biografia do sábio.

A narrativa dessas viagens por Damis, reproduzida por Filóstrato, é tão repleta de milagres, que muitos a têm considerado como de caráter imaginário. Em seu retorno à Europa, Apolônio foi saudado como um mágico, e recebeu as maiores homenagens quer de sacerdotes quer de pessoas em geral. Ele próprio se atribuiu apenas o poder de prever o futuro; já em Roma afirma-se que trouxe à vida a filha de um senador romano. Na auréola do seu poder misterioso ele atravessou a Grécia, a Itália e a Espanha. Também se afirmou que foi acusado de traição tanto por Nero quanto por Domiciano, mas escapou por meios milagrosos. Finalmente Apolônio construiu uma escola em Éfeso, onde veio a falecer, aparentemente com a idade de cem anos. Filóstrato mantém o mistério da vida do seu biografado ao afirmar: "Com relação à maneira de sua morte, ‘se ele morreu’, as narrativas são diversas."

Esta obra de Filóstrato é geralmente considerada como um trabalho de ficção religiosa. Ela contém um número de histórias obviamente fictícias, através das quais, no entanto, não é de todo impossível discernir o caráter geral do homem. No século III, Hierócles esforçou-se para provar que as doutrinas e a vida de Apolônio eram mais valiosas do que as de Cristo, e, em tempos modernos, Voltaire e Charles Blount (1654-1693), o livre-pensador inglês, adotaram um ponto de vista semelhante. À parte este elogio extravagante, é absurdo considerar Apolônio meramente como um charlatão vulgar e um fazedor de milagres. Se descartamos a massa de mera ficção que Filóstrato acumulou, ficaremos com um reformador sincero, altamente imaginativo, que tentou promover um espírito de moralidade prática.

Escreveu muitos livros e tratados sobre uma ampla variedade de assuntos durante a sua vida, incluindo ciência, medicina, e filosofia.

As suas teorias científicas foram finalmente aplicadas à ideia geocêntrica de Ptolemeu que o Sol revolvia ao redor da Terra. Algumas décadas após a sua morte, o Imperador Adriano colecionou os seus trabalhos e assegurou a sua publicação por todo o império.

A fama de Apolônio ainda era evidente em 272, quando o Imperador Aureliano sitiou Tiana, que tinha se rebelado contra as leis romanas. Num sonho ou numa visão, Aureliano afirmava ter visto Apolônio falar com ele, suplicando-lhe poupar a cidade de seu nascimento. À parte, Aureliano contou que Apolônio lhe disse "Aureliano, se você deseja governar, abstenha-se do sangue dos inocentes! Aureliano, se você conquistar, seja misericordioso!" O Imperador, que admirava Apolônio, poupou desse modo a cidade. Também no século III, Flávio Vopisco, em seu escrito sobre Aureliano, cita Apolônio.

O Livro de Pedras, do alquimista medieval islâmico Jabir ibn Hayyan, é uma análise prolongada de trabalhos de alquimia atribuídos a Apolônio (aqui chamado Balinas) (ver, por exemplo, Haq, que fornece uma tradução para o inglês de muito do conteúdo do Livro de Pedras).

Devido a algumas semelhanças de sua biografia com a de Jesus, Apolônio foi, nos séculos seguintes, atacado pelos Padres da Igreja sendo considerado desde um impostor até um personagem satânico. Mas houve também quem o exaltou comparando-o aos grandes magos do passado, como Moisés e Zoroastro.

Apolônio faleceu em Éfeso, cerca de 98.

Bibliografia: - Eduardo Amarante, Dulce Leal Abalada & George Robert Stowe Mead, Apolônio de Tiana, O Taumaturgo Contemporâneo de Jesus, Zéfiro, 2009.

Fonte: Wikipédia.

domingo, 15 de abril de 2012

Cornelius Agrippa

Heinrich Cornelius Agrippa von Nettesheim (Colônia, 14 de Setembro de 1486 — Grenoble, 18 de Fevereiro de 1535) foi um intelectual polemista e influente escritor do esoterismo da Renascença. Interessou-se pela magia, ocultismo, alquimia, astrologia e demais curiosidades esotéricas. Pelo que deixou escrito, é considerado o primeiro intelectual feminista. Esteve ao serviço de Maximiliano I devotando o seu tempo ao estudo das ciências ocultas. Foi citado por Mary Shelley em Frankenstein, e no conto O Mortal Imortal surge como uma das personagens.

Heinrich Cornelius nasceu na cidade de Colônia, Alemanha, e adotou o nome Agrippa em uma homenagem ao fundador de sua cidade e teve uma educação privilegiada na qual pôde estudar idiomas, direito e ciências. Matriculou-se na Universidade de Artes de Colônia em meados de 1499. No entanto, não atingiu graduação na maior parte de sua vida acadêmica.

Nos primeiros anos do século XIV, em Paris, adotou o nome von Nettesheim, o qual atribuía-lhe uma certa condição de nobreza. Neste mesmo período, juntamente a um grupo de estudantes ocultistas, fundou uma sociedade que se dedicava ao estudo da cabala, astrologia e diversos ramos de magia. Esteve na Espanha entre 1507 e 1508. Em Dôle, no ano de 1509, trabalhando como professor de Hebreu e Teologia, Agrippa reuniu alguns equipamentos e material necessário para dar início a uma nova área de pesquisa: alquimia. Nesta época, foi acusado de herege devido seu comportamento e abordagem como professor. Ainda esteve na Itália atuando no grupo militar do Imperador Maximilian.

Os próximos anos de sua vida são dedicados ao estudo e prática de Grande Obra. No entanto, não há registro de nenhum feito considerável, apesar de ter viajado pela Europa e ter acumulado uma significativa experiência ocultista durante este período. Em 1510, mantendo contato com Johannes Trithemius, deu início ao livro De Philosofia Occulta. Porém, seguindo a sugestão do próprio Trithemius, decidiu ocultar este trabalho para evitar mais perseguições por parte da Igreja. No ano seguinte, retornou à Colônia e integrou o corpo militar.

Na Universidade de Turim, em 1516, dissertou sobre teologia baseadas nas epístolas de São Paulo. Três anos mais tarde, em Metz (França), atuou como "advogado" de defesa de uma mulher acusada de feitiçaria pelo inquisidor local. Agrippa venceu a causa e ganhou fama.

Em 1520, na cidade de Genebra, passa a atuar com medicina através de ervas e poções elaboradas por ele mesmo. Neste período entra em contato com a doutrina do luteranismo e passa a acompanhá-la com interesse. Pouco tempo depois, em 1524, é convidado a ocupar a condição de médico da Rainha Mãe da corte do Rei Francis, na cidade de Lyon, França; e torna-se astrólogo da corte.

Porém, Agrippa foi abandonado pela corte quando, em uma interpretação astrológica, previu a queda do Reino. Então, desprezado pela nobreza de Lyon, vaga até chegar a Antuérpia e dar continuidade as suas atividades medicinais. Lá, após obter fama curando os cidadãos afetados pela peste, é impedido pelas autoridades de dar prosseguimento às atividades medicinais por não dispor de licença legal. Em seguida passa a atuar como historiador da corte do Rei Charles V. No entanto, em momento algum obteve muita prosperidade econômica.

No ano de 1527, concluiu seu trabalho De incertitudine et vanitate scientiarum. Esta obra é uma reunião de referências católicas combinadas com filosofia e ocultismo; mas, segundo o autor é uma "sátira da tristeza da ciência". Em 1529, compilou o tratado de magia intitulado De Philosofia Occulta iniciado em 1510. De Philosofia Occulta é baseado em textos hebraicos e gregos com influência do neoplatonismo, no qual afirmava que a melhor forma de atingir a essência divina era através das práticas mágicas. Outras obras relevantes de cunho ocultista-filosófico são Libellus de sacramento matrimonii e De nobilitate et præcellentia feminei sexus declamatio. Além de um trabalho no qual exaltava a nobreza e o poder do sexo feminino.

Muda-se para Bruxelas em 1531 e a partir de meados de 1533, os registros sobre os fatos de sua vida tornam-se mais escassos. Sabe-se que Agrippa continuou sendo perseguido pelos inquisidores e por seus desafetos que influenciaram o Rei Charles V a condená-lo à morte sob a acusação de heresia. Entretanto, consegue fugir para a França. Lá, é capturado por soldados de Francis devido à mágoa de sua previsão astrológica elaborada anos antes. Através de sua influência no reino, consegue sua libertação e parte rumo à Lyon.

Agrippa nunca chegaria à Lyon. Há registros de que fora visto pela última vez na cidade de Grenoble em fevereiro de 1535 e que seu corpo repousa em um monastério da região. Posteriormente, no ano de 1600, uma edição bastante robusta de suas obras foi publicada em Lyon.

Fonte: wikipédia; www.spectrumgothic.com.br.

A tábua Ouija

No filme O Exorcista, uma garota é possuída após brincar com uma tábua Ouija, um quadro de plástico ou de madeira, com as letras do alfabeto e números e algumas respostas básicas, como sim ou não. Ao se perguntar coisas à tábua, espíritos fazem mover um ponteiro ou um copo e apontam as respostas.

Nos anos 60, muitas pessoas tornaram-se obcecadas pelas tábuas Ouija, a ponto de fazer suas vendas crescerem mais do que os mais famosos jogos do momento. Foram desenvolvidas originalmente nos Estados Unidos por William e Isaac Fuld por volta de 1900, adaptada de uma versão européia de 1850.

A tábua Ouija é um instrumento paranormal e deve ser encarada com o devido respeito, sendo talvez o mais controverso método de comunicação com os espíritos, principalmente porque pode ser usada por qualquer um sem qualquer preparo ou cuidado especial. Assim, seu uso não é recomendado, pois pode provocar fenômenos mediúnicos sem a presença de um médium experiente.

Um outro fator que desabona o uso de tábuas Ouija é que as mesmas podem colocar um usuário despreparado em contato direto com espíritos de baixo padrão moral, pois são estes que se comprazem em atender aos chamados dos desavisados e descrentes.

Normalmente estes, no início, fornecem informações corretas que podem ser confirmadas. Uma vez estabelecido um elo de confiança, passam a zombar do usuário da tábua, dizendo coisas sobre o futuro que podem comprometer sua tranquilidade.

O uso da tábua Ouija deve ser feito por no mínimo duas pessoas, reunidas numa mesa onde todas possam estar próximas. Os usuários devem então colocar seu dedo levemente sobre o ponteiro e convidar um espírito para tomar parte na sessão.

A partir daí deve-se fazer as perguntas ao espírito de uma maneira repetida e vagarosa. Se algum espírito atender o chamado, o ponteiro se moverá vagarosamente letra por letra, até formar as palavras e a resposta.

Muitos espíritas, paranormais e caçadores de fantasmas crêem que o ponteiro se move pela força dos presentes combinadas com a do espírito que se apresenta, quer seja ele bom ou mau.

Através dos anos, a tábua Ouija foi sendo associada a um instrumento do mau, especialmente por pais e grupos religiosos que afirmam que os jovens ficaram "possuídos" após seu uso. Aparentemente, espíritos mal-intencionados que se fazem passar por bons espíritos vem causando a possessão de crianças e danos emocionais em adultos (até mesmo o suicídio) que usam a tábua Ouija.

Muitos casos existem onde as pessoas acabam por ficar obcecadas pelo uso da tábua, tornando-se dependentes dela para qualquer decisão que venham a tomar.

Fonte: http://ouijahp.kit.net/

Lendas do diabo

O diabo é o herói de mil tropelias no sertão. Aparece com o aspecto tradicional que lhe deu o catolicismo: chifres, olhos de fogo e pés de pato ou de bode. Também pode surgir como um grande cachorro, um bode, um gato ou um porco negro. Tem muitos apelidos, porque não se deve nunca dizer seu verdadeiro nome, a fim de o não atrair: Cão, Debo, Moleque, Fute, Pé-de-pato, Futrico, Figura, Bode Preto, Porco-Sujo, Sujo, Capa-Verde, Capinha, Gato Preto, Malmo, Sapucaio, Pedro Botelho, Bicho Preto, Rapaz, Tinhoso, Capiroto, Droga, Capeta, Coxo, Maioral, Ele.

Geralmente, o demônio sertanejo, como o de todos os povos, é criado à sua imagem e semelhança. Anda, por isso, encourado como os vaqueiros, monta a cavalo, é especialista em velhacadas de cigano e alquilador, gosta de cachaça, come picadinho de bode com gerimum, dança nos sambas, campeia o gado, faz a corte às moças, e desaparece sempre com um estouro e um fedor terrível de enxofre ou de chifre queimado. Às vezes, se apresenta como um cantor de desafio a quem ninguém vence. De outras, se encarna no couro dos cantadores célebres, ou faz pactos com eles, tornando-os invencíveis. O cantador Manuel do O Bernardo, não podendo vencer num desafio célebre seu rival Rio-Preto, gritou no meio da sala onde se achavam, rodeados de muita gente:

Senhora dona da casa,
Abra a porta, acenda a luz:
Estamos c’o Cão em casa,
Rezemos o credo em cruz!

Outro famoso cantador, Manuel das Cabeceiras, afirmava ter cantado desafio uma vez com o demônio em figura de moleque.

Corre pelo sertão uma versalhada sobre a disputa do diabo com São Miguel a propósito da alma de certo ricaço inimigo dos pobres, que estava sendo julgada no outro mundo. Quando o arcanjo começou a pesar as boas e más obras do morto na sua balança, este pediu a intercessão em seu favor de Nossa Senhora, da qual fora sempre devoto. Satanás esperava com prazer apoderar-se da alma do infeliz. Nossa Senhora, porém, movida da piedade de seu amantíssimo coração, conseguiu salvá-la. Ao avistá-lo, o Fute falou assim:

Lá vem a compadecida!
Mulher com tudo se importa!
Todos fazem seus negócios,
Mas a mim fecham a porta.
No fim de todas as coisas,
Eu é que levo a taboca!

Não foi possível obter os outros versos do poemeto sobre esse milagre da Virgem Mãe.

O suplício mais terrível que existe no inferno para aqueles que cometem impurezas nesta vida é, no dizer dos matutos, o chamado da cama do compadre com a comadre. A decência não permite se faça sua descrição. Para mostrar quanto é terrível, basta a seguinte lenda sertaneja:

Um dia, o diabo coxo revoltou-se contra o maioral do inferno e pintou o sete lá dentro. Quebrou os móveis e deu pancada a torto e a direito. Todos os demônios o cercaram armados de espetos em brasa. Continuou a lutar. O maioral ameaçou-o se não se rendesse, de passá-lo pelas moendas onde se supliciam as almas mais pecadoras. Soltou uma gargalhada. Ameaçou-o com a grande caldeira de azeite fervente. Tornou a zombar. Ameaçou-o com a cama do. compadre com a comadre. O diabo coxo empalideceu, pôs-se a tremer e entregou-se, pedindo perdão.

Na opinião sertaneja, o demônio tem horror aos meninos, porque já o fizeram perder duas vasas. A primeira, numa igreja. Todo vestido de preto, debo estava tomando nota de quem se portava mal durante a missa, quando um menino puxou a saia da mãe.

- Que é isso, menino? disse ela.

- Mamãe, olhe ali aquele homem! Ele tem os pés de pato!

A mulher voltou-se, viu e fez o sinal da cruz. O bicho estourou, fedendo.

A segunda foi numa festa. O diabo, que andava apaixonado por uma moça muito bonita, compareceu a um baile em casa do pai dela, bem vestido e bonito, mas sem poder esconder os pés de pato. Quando mais aceso ia o seu namoro, um menino gritou no meio da sala:

- Aquele homem tem os pés de pato!

Houve grande reboliço. A moça fez o sinal da cruz. Ouviu-se logo o estouro e sentiu-se a fedentina de chifre queimado.

No sertão, o diabo faz pactos ou pautas, como dizem os nordestinos, com indivíduos que o logram a maior parte das vezes. Para mútua segurança nesses contratos, quase sempre realizados alta noite, numa encruzilhada deserta, o homem deve dar ao Maligno em caução alguma gotas de seu sangue.

Conta-se que um fazendeiro fez com o Capeta o seguinte acordo: Este faria tudo quanto aquele mandasse e somente o poderia levar para o inferno, quando tivesse esgotado suas ordens. É quase a condição imposta pelo demônio aos desejos do doutor, no Segundo Fausto de Goethe.

O homem fez o que bem quis com o auxílio do diabo até que um dia já não sabia mais o que ordenar. Ia ser carregado para o inferno, quando lhe ocorreu um ardil salvador: mandou o Tinhoso encher um cesto de água e ele, desesperado, estourou e foi-se.

Tendo morrido numa cidade sertaneja um homem, cuja riqueza era de origem duvidosa, verificou-se que a tinha obtido com um pacto infernal, pois que, no dia do enterro, quando todos os parentes e amigos enchiam a casa do defunto vestidos de preto, nela entrou um vaqueiro alto e moreno, todo encourado, que, sem tirar da cabeça, com escândalo dos presentes, o seu chapeu de couro, deu em silêncio algumas voltas em torno do esquife e foi embora. Quando se abriu o caixão, antes de ser levado para o cemitério, a fim da viúva se despedir de seu marido, verificou-se que estava vazio. O demônio levara o morto em corpo e alma!

Conta, afinal, o sertanejo que o diabo é casado e tem uma filha muito bonita. Por ela se apaixonou um rapaz de grande virtude e valor. Seu anjo da guarda não conseguiu afastá-lo de tão perigosa paixão. A moça não foi indiferente a esse amor, mandou-lhe recados carinhosos, e até falou ao pai em abandonar o inferno e ir morar na fazenda do namorado. O diabo enraiveceu-se com esses desejos e, para evitar que os realizasse, trancafiou-a a sete chaves numa torre de ferro, ao meio de seu reino.

Ao saber disso, o rapaz montou no seu cavalo de campo castanho escuro, fechado ou, melhor, cacete, sem sinal descoberto nem encoberto de espécie alguma, o animal de maior fama da ribeira, e dirigiu-se ao inferno, decidido a tudo. Chegou lá na hora em que os diabos dormiam, abriu as portas da torre com chaves falsas, pôs a moça na garupa e fugiu a todo galope.

Quando acordou e soube, pela mulher, do audacioso rapto, o diabo teve violentíssimo acesso de fúria. Depois, mandou selar um de seus melhores cavalos e lançou-se em perseguição dos fugitivos. A moça, que ia sentada à garupa do namorado e podia voltar-se para trás, avistou ao longe o vulto do pai. Preveniu-o e ele esporeou a cavalgadura, perguntando:

- Em que cavalo vem teu pai?

- Num gáseo.

Ele respondeu, rindo:

- Cavalo gáseo-sarará não presta nem prestará.

As rimas dos rifões sobre os pêlos dos cavalos são simples meios mnemônicos para não esquecê-los. O cavalo gáseo-sarará é o albino, o ruço ou branco de pele rósea. Chama-se comumente só gáseo. Sarará se diz do indivíduo rusalgar. A combinação dos dois termos dá mais força à idéia da cor do animal.

Sentindo escapar-lhe a cobiçada presa, o demônio muda de cavalo e a moça previne ao rapaz, que indaga:

- Em que cavalo vem teu pai?

- Num alazão.

- Trazes o freio na mão, onde deixaste teu alazão?

Seguem-se contínuas mudanças, sempre acompanhadas da pergunta - em que cavalo vem teu pai? - e de respostas que indicam as qualidades ou defeitos atribuídos às cores dos animais.

- Em que cavalo vem teu pai?

- Num bebe-em-branco.

- Quem monta em bebe-em-branco, monta em cavalo manco.

O bebe-em-branco é o cavalo escuro de narinas e queixo brancos.

- Em que cavalo vem teu pai?

- Num cardão rodado.

- Cavalo cardão rodado melhor andando que parado...

O cardão rodado é o tordilho escuro com manchas apatacadas que o francês chama grís pommelé.

- Em que cavalo vem teu pai?

- Num cardão pedrez.

- Cavalo cardão pedrez para carga Deus o fez.

O cardão pedrez é o tordilho pintadinho.

- Em que cavalo vem teu pai?

- Num ruço-pombo.

- Cavalo ruço-pombo traz pisadura no lombo.

- Em que cavalo vem teu pai?

- Num melado-caxito.

- Cavalo melado-caxito tanto é bom como é bonito.

O melado-caxito é o baio dourado de crinas e canos pretos.

A excelência do animal não adiantava mais nada ao demônio, porque os dois amantes chegavam à face da terra e se refugiavam numa igreja, onde casaram. O diabo voltou ao seu reino, aborrecido e fatigado. Ao entrar em casa, sua mulher indagou:

- Alcançou-os?

- Não. Foi impossível!

- Por que?

- Porque montavam um cavalo castanho escuro que pisa no mole e no duro, e leva o dono seguro.

O sertanejo aproveita essa lenda dum Orfeu bárbaro para enumerar seus conceitos sobre as cores dos cavalos, desmentindo o velho aforismo dos maquignons de França; à tout poil bonne bête. Mas, em todos os pêlos, mesmo nos mais desacreditados, há exceções. Essa a verdade.

De todas as lendas sobre o diabo que correm pelos sertões do Nordeste brasileiro parece que esta é a mais peculiar, a mais característica.

___________________________________________________________________________
Gustavo Barroso (Gustavo Dodt Barroso), historiador e folclorista, nasceu em Fortaleza, CE, em 29/12/1888, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 3/12/1959. Publicou, entre outras obras, Terra de sol, Rio de Janeiro, 1912; Heróis e bandidos, Rio de Janeiro, 1917; Casa de marimbondos, São Paulo, 1921; Ao som da viola, Rio de Janeiro, 1921 (2 ed. aumentada, Rio de Janeiro, 1949); O sertão e o mundo, Rio de Janeiro, 1923; Através dos folclores, São Paulo, 1927; Almas de lama e de aço, São Paulo, 1930; Mythes, contes et légendes des indiens, Paris, 1930; Aquém da Atlântida, São Paulo, 1931; As colunas do templo, Rio de Janeiro, 1932.

Fonte: Jangada Brasil - (Barroso, Gustavo. Ao som da viola, p.574-579)

A lenda dos índios morcegos

No sertão de São Vicente, que se estende próximo ao Araguaia, existe a montanha Morcego. Nela há uma grande caverna com uma entrada em baixo, enquanto que bem no alto há um espécie de janela. Ali moravam antigamente os kupe-dyep, seres de forma humana, mas com asas de morcego.

Um apinagé flechara um veado perto da rocha do Morcego e acampara ali a noite porque já era tarde. Mas, enquanto ele dormia, os kupe-dyeb vieram voando esmagando seu crânio com seus machados.

Como ele já estivesse há muito tempo ausente, seus parentes seguiram as suas pegadas e acharam seu cadáver. Em torno dele, viram também muitas pegadas, mas nenhum traço da chegada ou partida dos malfeitores.

Por causa disso durante muito tempo os apinagés evitaram passar a noite naquela região, até que um dia dois caçadores e um menino decidiram acampar ao pé da rocha do Morcego. Depois do anoitecer, ouviram cantos vindos de dentro da montanha. Então o menino ficou assustado e se escondeu em uma moita longe do acampamento dos dois homens. Logo após, os morcegos vieram voando e mataram os dois caçadores, mas o menino escapou, e na aldeia contou o que ocorrera.

Então os guerreiros apinagés de todas as quatro aldeias saíram juntos para destruir os kupe-dyep. Quando eles chegaram à rocha do Morcego, imediatamente ocuparam a entrada da caverna, onde amontoaram lenha. Enquanto isso, outros procuravam fazer uma volta para alcançar a janela da caverna. Mas isto era mais difícil do que haviam suposto, e eles ainda não tinham alcançado o seu objetivo, quando aqueles que tomavam conta da entrada puseram fogo à pilha. Assim os kupe-dyep voaram em atropelo pela abertura superior, sem serem feridos pelas setas dos apinagés. Eles voaram pra o sul, e diz-se que ainda estão vivendo em algum lugar por lá.

Quando a fumaça diminuiu, os guerreiros apinagés penetraram na caverna, achando um grande número de machados abandonados pelos kupe-dyeb em sua fuga. Bem no fundo da caverna, escondido por uma pedra, um menino de cerca de seis anos de idade. De início, eles queriam mata-lo, mas um índio decidiu criá-lo e levou-o consigo.

Quando os apinagés em sua viagem fizeram seus leitos de folhas de palmeiras no chão, determinaram também o lugar onde deveria dormir o pequeno kupe-dyeb, mas ele não ficou deitado: chorava e olhava constantemente para o céu. Como não queria deitar-se de modo algum, seu dono teve subitamente uma idéia. Lembrou-se de que na morada dos kupe-dyep não havia camas no chão nem tão pouco postes para dependurar redes, mas havia muitas vigas horizontais. Trouxe um varapau e o colocou horizontamente apoiado nas forquilhas de galhos de duas pequenas árvores vizinhas.

Logo que o menino viu isso, trepou em uma das árvores de tal modo que se dependurou no vara pau pelos joelhos, a cabeça para baixo. Encolheu a cabeça, cobriu o rosto com os braços cruzados, e então dormiu calmamente nesta posição.

Este menino viveu pouco tempo entre os apinagés, pois morreu logo. Um dia eles o observaram deitado no chão cantando. “U-ua Klunã Klocire! Klud pecetire!” Então, ele agarrou o cangote com as mãos. Quando os apinagés perguntaram-lhe sobre isto, disse que seus companheiros de tribo dançavam daquele modo. Os apinagés ainda cantam a canção do kupe-dyeb.

(Conforme recolhido entre os Apinagés por Curt Nimuendaju (1939)
- Traduzido por Alberto da Costa e Silva)
__________________________________________________________________________

Conto recolhido entre os Apinagés por Curt Nimuendaju e publicado em seu livro The Apinayé (versão inglesa de Robert H. Lowie, The Catholic University of America Press, Washington, 1939, págs. 179-180).

SILVA, Alberto da Costa e (org). Antologia de Lendas do Índio Brasileiro. Rio de Janeiro, Ministério da Educação e Cultura, 1957, p 215-217.:

Defuntos e almas do outro mundo

São curiosíssimas as superstições populares com relação aos defuntos e almas do outro mundo. O cadáver coloca-se de pés para a rua, e na sua condução para a sepultura vai de pés para a frente, salvo o dos padres, que têm compostura oposta, em virtude de preceitos eclesiásticos.

Se o corpo fica mole, é prenúncio certo de vir a alma do morto buscar proximamente alguém da família, e o mesmo ocorre quando fica de olhos abertos; e para evitar isso alguém os deve fechar, recitando a conhecida fórmula: "Fulano, fecha os olhos para o mundo e abre-os para Deus".

Quando um cadáver é dado à sepultura, envolvido, não se tira a agulha que coseu a fazenda; e para não se ter medo do defunto e não assombrar a gente de casa, beija-se-lhe a sola do sapato.

Ao passar de um féretro, todos se descobrem respeitosamente, e pedem a Deus que lhe dê o céu. As pessoas que conduzem um cadáver ao sair de casa para a sepultura devem também tomá-lo à entrada do cemitério.

Dedo ou mão de anjinho pagão e um pedaço de corda de enforcado dão felicidades a quem os possui.

Quando morremos, o espírito se evola imediatamente, mas não vai para o seu destino, o céu ou o inferno, segundo as suas obras praticadas neste mundo; e, enquanto o cadáver não baixa à sepultura, permanece junto ao mesmo. Os nossos índios, porém, acreditavam que o espírito só se apartava do corpo depois do seu completo estado de decomposição; e enquanto não ia para a lua, lugar destinado à sua morada e descanso eterno, percorria as florestas, assistia às suas conversas, às suas danças, e era testemunha, enfim, de todas as suas ações.

Para outras tribos, apesar de originárias todas de um mesmo tronco, o tupi, — a vida remuneradora dos justos era passada em localidades encantadoras, que se afiguravam no reverso das montanhas azuis, a serra Geral que percorre a vasta extensão da costa austral do Brasil, e cujas montanhas viam a uma certa distância; mas os espíritos infiéis, pusilânimes eram proscritos dessa mansão, como anatematizados e votados a misérias e privações, erravam por desertos estéreis e se acolhiam aos covis das feras.

Segundo a crendice popular, para verificar-se o destino final dos espíritos, é preciso um julgamento prévio.

O espírito, apenas desprendido da matéria, comparece perante o arcanjo São Miguel, e tomando ele a sua balança, coloca em uma concha as obras boas e na outra as obras más, e profere o seu julgamento em face da superioridade do peso de umas sobre as outras.

Quando absolutamente não se nota o concurso de obras más, o espírito vai imediatamente para o céu; quando são elas insignificantes, vai purificar-se no purgatório; e quando não tem em seu favor uma só obra boa sequer, vai irreversivelmente para o inferno, donde só sairá quando se der o julgamento final, no dia de juízo, seguindo-se então a ressurreição da carne.

À morte dos justos e bons, que atravessaram a sua passagem por esse mundo sem pecados, assiste um anjo, invisivelmente, empunhando uma espada flamejante para os defender de satanás, que, ainda mesmo nesse extremo momento da vida, comparece junto ao leito para arrebatar-lhes a alma; e São Pedro, na sua qualidade de porteiro do céu, espera-os nos seus umbrais para dar-lhes ingresso no paraíso.

O recém-nascido que não foi amamentado e morre batizado, não participando, portanto, de coisa alguma deste mundo, é um serafim, anjo da primeira jerarquia celestial, e vai imediatamente para as suas regiões ocupar um lugar entre os seus iguais; o que recebeu amamentação e as águas do batismo é simplesmente um anjo, porém antes de entrar no céu passa pelo purgatório para purificar-se dos vestígios da sua efêmera passagem pela terra, expelindo o leite com que se amamentou; e o que morre pagão fica eternamente privado da luz e glórias celestiais, e vai habitar as sombrias regiões do limbo.

A mulher casada que não teve filhos, quando morre vai vender azeite às portas do inferno, para alimentar o fogo eterno a que são condenados os maus e os perversos, que morreram fora da graça de Deus.

O cadáver dos indivíduos que morrem excomungados pela igreja, fica completamente ressequido, como uma condenação da terra contra os seus pecados, e não consome o nariz dos que têm por hábito cheirar a comida; aos dos parricidas mirra-se-lhe o braço cuja mão praticou o crime; e o dos meninos que dão pancadas nas mães, fica com o braço inteiriçado.

A terra não consome o cadáver dos santos e bem-aventurados; conserva intactos os seus corpos, e deles desprende-se um aroma suave e agradabilíssimo, que transporta a místicos pensamentos; e picando-se os mesmos, deitam sangue. Do corpo de Santo Antônio, a terra consumiu tudo menos a língua.

Sobre este particular prodígio, referem as Memórias do Cabido de Olinda, que, trasladando-se para um carneiro de mármore o corpo do bispo dom Matias de Figueiredo e Melo, falecido em 1694, encontrou-se sem corrupção alguma, deitando sangue um dedo casualmente ferido quando se abriu a sua primitiva sepultura; e a quem ainda hoje visita a velha, mas belíssima catedral olindense, indica-se-lhe em respeito o sepulcro do bispo santo, como o consagra a veneração popular e o diz o epitáfio inscrito sobre o monumento.

Frei Francisco de Assunção, religioso franciscano do convento de Serinhaém, falecido em 1710, foi um homem de santa vida. Pelas suas grandes virtudes, predisse com precisão o dia da sua morte, e no seu cadáver observou-se admirável prodígio — "porque, como refere Jaboatão, ficou tratável e brando, dando estalos os dedos, se os moviam, parecendo estar vivo e sem os comuns efeitos da corrução".

Os homens santos caminham suspensos do solo, em altura conveniente, e os seus passos são tão firmes e seguros como se andassem sobre a própria terra. Desses fatos estão cheias as nossas legendas religiosas, e o povo os repete com uma inabalável firmeza de crença.

O nosso cronista Jaboatão, escrevendo detalhadamente a vida de frei Cosme de São Damião, notável franciscano do convento de Olinda, onde professou em 1597, refere que, sendo ele empregado em sua mocidade, antes de abraçar a vida religiosa, no Engenho Velho, do Cabo; e entrando em uma ocasião na casa de purgar, o seu proprietário, o velho fidalgo João Paes Barreto, para falar ao moço Cosme, o foi achar a um canto, posto de joelhos sobre as tábuas dos andaimes em que assentam as fôrmas de açúcar, em oração, e não só todo absorto nela, mas levantando no ar bastantemente".

O mesmo escritor, referindo-se ao falecimento de frei Cosme, ocorrido na Bahia em 1659, consigna um documento firmado pelos doutores em medicina Antônio Rodrigues e Francisco Vaz Cabral, os quais, em termos de fé e juramento aos Santos Evangelhos, declaram que "estando para ser dado à sepultura o corpo do dito padre, e tocando-lhe o nariz, boca, orelhas, cabelos e os emunctórios do seu corpo, não acharam sinal algum de mau cheiro, ou corrução, o que julgavam ser coisa mais que natural, em razão de serem passadas mais de vinte e sete horas depois que faleceu, e ser tempo de maior calor (novembro), sendo acessório a esse acidente, o que faziam as muitas luzes e grande tumulto de gente, de que sempre o corpo esteve cercado..."

Nos nossos dias, quando se trata do virtuoso padre Arsênio Vuillemain, natural da França, pertencente à Congregação da Missão, fundador da Sociedade de São Vicente de Paulo, e falecido nesta capital no dia 3 de junho de 1899, com 64 anos de idade, refere-se que, por várias vezes, fora visto ele caminhar suspenso, e assim estar em suas orações.

Sobre esse prodígio observado no padre Vuillemain, particularizamos o seguinte fato, que nos referiu uma respeitável pessoa, assegurando-nos a sua notoriedade:

"Caminhava ele apressadamente, como costumava, por certa rua desta capital, quando ao aproximar-se de uma casa, grita para dentro uma criança que estava à janela: — Venham ver um padre andando suspenso. Vuillemain dirige-se logo para a criança, e com um sorriso angélico e bondoso bate-lhe carinhosamente nos lábios com a mão dizendo-lhe: — Cala a boca, minha filha, — e prossegue no seu caminho.

A criança, porém, nédia, viva e de perfeita saúde, adoece imediatamente, sem causa conhecida, e falece dentro de poucos dias. Era um anjinho predestinado e tocado da graça divina; o seu lugar não era na terra: foi para o céu."

No lugar de uma estrada em que se pratica um homicídio, coloca-se uma cruz, perante a qual pairam os viandantes respeitosamente, descobrem-se e rezam em intenção do morto; e depois, colhem um ramo verde e deitam-no aos pés da cruz.

As almas do outro mundo aparecem, e falam mesmo, mas com voz estranha, anasalada, horrível, crença esta que é geral entre todos os povos, cultos ou não, e que entre nós mesmos remonta-se aos próprios indígenas, que apesar do estado de barbaria em que viviam tinham uma vaga noção do ente supremo, a que chamavam Tupã, criam em gênios bons e maus, e supersticiosos como eram, acreditavam em almas penadas ou pecadoras, a que na língua geral, ou tupi, dava-se o nome angatecô, e às almas do outro mundo o de angoeira.

Firme o povo nessa crença, implantada desde a sua infância, e mantida por uma corrente de indestrutível tradição, é passivamente arrastado a crer em todas essas fantasmagorias; e revelam-se mesmo fatos extraordinários, narrados e afirmados com uma inabalável convicção, o quais apavoram aos tímidos e enchem as crianças, principalmente, de terror tal, que adormecem amedrontadas vendo ao vivo, em sua imaginação frágil, as horripilantes cenas dos fatos descritos nas íntimas palestras de família.

Fonte: Costa, F. A. Pereira da. Folclore pernambucano; subsídios para a história da poesia popular em Pernambuco. Recife, Arquivo Público Estadual, 1974, p.97-101

A lenda da Morte

A crença na fatalidade da morte produziu no sertão a mesma lenda que existe no Oriente, com pequena diversidade de forma e nenhuma de substância. Onde quer que a alma popular pense do mesmo modo, se manifesta de idêntica maneira e, como ensina Van Gennepp, a qualquer momento em tema lendário bem localizado será achado num ciclo de contos populares em outro extremo do mundo.

Conta Paul de Saint-Vitor que, na Turquia, em certa época, todo o dia que Alá dava ao mundo um dos mais queridos pachás do sultão vinha saudá-lo na Sala do Divã e suplicar-lhe para ser nomeado governador duma cidade distante. Justificava o pedido com uma desculpa qualquer.

O soberano não o queria atender e até já estava se aborrecendo com aquela insistência, quando o velho servidor do trono confessou o verdadeiro motivo do seu desejo de deixar Istambul. Todas as manhãs, ao sair de seus aposentos, encontrava a Morte que lhe cravava olhos de espanto. Já não podia mais com essa obsessão. O sultão tomou a narrativa como caduquice, teve pena do pachá e mandou-o para onde tanto queria ir.

Semanas depois, passeando a noite pelo jardim do palácio, o sultão encontrou a Morte e interpelou-a:

- Porque perseguias o meu velho pachá, fitando-o diariamente com olhos de espanto?

E ela respondeu:

- Porque recebi ordem de matá-lo na cidade para onde foi nomeado governador e me admirava de ainda vê-lo por aqui ...

Esta certeza de que ninguém escapa à morte no dia marcado se consubstancia também numa história sertaneja:

Um caçador armou um mondéu por trás dum cemitério, a fim de pegar um tatu que costumava andar por ali. Numa noite de luar, topou com o maior espanto a Morte presa naquela armadilha, cujo pesado tronco lhe caíra sobre uma das tíbias. O corpo esquelético se estirava no chão, envolto no branco lençol e a foice rolara por uma ribanceira, ficando dependurada numa raiz de angico. Gelado e imobilizado de pavor, o matuto ouviu a Morte chamá-lo:

- Venha cá! Livre-me deste mondéu e o recompensarei.

Cobrou algum ânimo, aproximou-se e, aproveitando o ensejo, pediu-lhe, como recompensa para libertá-la, o direito de viver sadio e forte até avançada idade, que somente diria depois dela lhe revelar quanto teria de vida, se não fosse aquela ocasião de prestar-lhe um favor. Ela respondeu sinceramente que isso não lhe era possível revelar e nem seria preciso para que dissesse quantos anos desejava de existência.

- Cento e vinte! Exigiu o caçador.

A Morte acedeu e ele a libertou. Viveu sempre rijo e feliz, assombrando o sertão e vendo o desfile das gerações, aquele longo período. No dia em que se completava o prazo obtido com o acordo, teve medo de morrer e resolveu enganar a Morte. Raspou completamente barba, bigode, cabelos e até sobrancelhas, de modo a se tornar irreconhecível e se meteu num baile que davam no lugar onde morava.

Perto da meia-noite, que era quando terminava o prazo, a Morte, que o procurava por toda a parte sem o achar, veio ter a festa, perguntando se o tinham visto; mas ninguém lhe dava a menor notícia dele. Aproximava-se a hora fatal. Então, ela examinou um por um os convivas e, ao bater a primeira badalada das doze horas, disse, segurando o nosso caçador pelo braço:

- Como não tenho mais tempo de procurar o velhaco e não quero me retirar de mãos vazias, levo comigo este pelado!...

___________________________________________________________________________
Gustavo Barroso (Gustavo Dodt Barroso), historiador e folclorista, nasceu em Fortaleza, CE, em 29/12/1888, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 3/12/1959. Publicou, entre outras obras, Terra de sol, Rio de Janeiro, 1912; Heróis e bandidos, Rio de Janeiro, 1917; Casa de marimbondos, São Paulo, 1921; Ao som da viola, Rio de Janeiro, 1921 (2 ed. aumentada, Rio de Janeiro, 1949); O sertão e o mundo, Rio de Janeiro, 1923; Através dos folclores, São Paulo, 1927; Almas de lama e de aço, São Paulo, 1930; Mythes, contes et légendes des indiens, Paris, 1930; Aquém da Atlântida, São Paulo, 1931; As colunas do templo, Rio de Janeiro, 1932.

Fonte: Jangada Brasil - (Barroso, Gustavo. Ao som da viola; nova edição correta e aumentada. Rio de Janeiro, 1949).

O diabo no folclore do Nordeste

O número de agosto de Brasil Açucareiro foi uma edição quase exclusivamente sobre o folclore do nordeste. Daí a oportunidade de relembrarmos velhas lendas sobre o diabo, ao tempo em que muito se acreditava nas artimanhas do maligno.

São totalmente esquecidas, pois remontam ao tempo do Recife de fora de portas, expressão tão velha e quase desconhecida que preciso explicar aos que não encontram o seu sentido imediato. Relembra ela o tempo das portas nas cidades e das populações que viviam fora delas.

Ou seja: aquilo mesmo que ainda acontece hoje, sem a existência das portas, com as classes mais bem afortunadas morando no centro da cidade e as mais desafortunadas, na periferia, no sertão ou outro nome qualquer que lhe queiram dar.

Nesta primeira lenda sobre o diabo em Pernambuco, ou melhor, no Recife, relato apenas o que ouvi na minha infância, época de vida farta e fácil, em que havia tempo para se cuidar muito da moral e da religião. Era o diabo empregado para efeitos moralistas, às vezes até mesmo sob fórmulas grosseiras. Nesta lenda simplificada, o veremos assim.

 A irmã do padre

Certo padre, recentemente formado, lutou e conseguiu sua nomeação para uma paróquia distante. Tendo como família apenas uma irmã solteira, esta se exasperou tanto com a possível mudança para o longínquo interior do estado que, às vésperas da viagem para a nova residência, foi ao auge da blasfêmia, exclamando: - Eu não vou para o mato e me caso até com o diabo, se ele aparecer esta noite!

Foi para a varanda do prédio onde morava e lá se deixou ficar. Precisamente à hora fatídica dessas coisas, a meia-noite, avistou ela, no princípio da rua, um elegante cavaleiro montado no seu ginete, cujos cascos riscavam fogo nas pedras do calçamento. Ao chegar à sua porta parou, olhou-a bem, desceu do cavalo, subiu as escadas e bateu à porta.

A irmã do padre correu para recebê-lo, vendo no fato a esperança de um casamento que não mais permitiria sua viagem para o interior do estado.

Ao abrir a porta, porém, e fitar o cavaleiro, viu nele os olhos de fogo de Satã e caiu morta.

Vê-se nesta lenda além do moralismo contra as blasfêmias, o Recife da época dos cavalos e dos cavaleiros, e onde os automóveis não eram nem sequer sonhados.

 A marca no braço

Tanto como a primeira esta outra estória remonta também à época de fora de portas. O cenário é que muda: não é mais o diabo montado no seu ginete faiscante. Lembra a época em que não havia estradas de ferro em Pernambuco. É um diabo marítimo, do tempo do apogeu das barcaças e de um Recife praieiro. É um diabo que apavora, que castiga, que rapta crianças, um precursor dos gangsters americanos, para desespero e contenção de mães que blasfemam e sobretudo de um fundo moralista e religioso.

Certa mãe impaciente pelas traquinadas do filho vai ao desespero e exclama: - Tornara que o diabo te carregue!

Dito isto vai à cozinha e ao voltar à sala nota o desaparecimento da criança. Procura pela casa toda e dá o desespero sem achar explicação para o caso.

No outro dia, porém, na hora da chegada das barcaças à rampa do cais, velhos barcaceiros que voltavam de alto mar ao passarem por determinado local ouviram choro de criança e avistaram entre pedras altas o menino desaparecido, apresentando ainda nos braços a marca terrível das unhas do diabo que o havia carregado como blasfemara a mãe ignorante de tal perigo.

Credo

Vindo da mesma época que as anteriores, não há nesta estória nenhum fundo moralista, apenas uma demonstração de força da palavra Credo, ou seja do Creio em Deus Padre, etc. Nota-se, porém, um afeito geográfico da época das ronceiras embarcações à vela, em que Maçaió ficava tão distante do Recife que se podia envolvê-la nas lendas.

Em casa de certa família que não primava por bons costumes, improvisaram um baile. E veio a frase do dono da casa: Hoje até o diabo dança aqui!

Altas horas da noite foi reparado que um crioulão alto não perdia um número e já dançava com certa dama há tanto tempo, que esta, não suportando mais o cansaço, indagou:

- O senhor não vai parar? Será que estou dançando com o diabo? Credo!!

A essa palavra a mulher sentiu-se só na sala, sem saber como o crioulo desaparecera. Cai, de espanto, ao tempo que todos sentem um cheiro forte de enxofre.

II

Agora, não mais a lenda, mas a realidade. E o Recife das velhas carroças puxadas a boi, levando açúcar turbina e mascavado da estação de São Francisco para os armazéns da rua do Brum. É o Recife em que a chegada do trem das 5 horas da tarde era uma festa para mim. Assistia da minha janela da rua das Calçadas a passagem dos paus de papagaios que iam para as casas que os vendiam no cais da Lingueta. Dos muitos exemplares raros de orquídeas que seguiam para a Inglaterra, por não valerem nada nas nossas matas, onde eram tratadas como parasitas e implicitamente nocivas às nossas árvores. E Recife de véspera de Natal onde ficava embevecido na minha inocência de criança vendo o desfilar do cortejo das carroças enfeitadas, puxadas por velhos bois magros e ronceiros, com velhas colchas nas costas e galhos de gameleira nas carroças a guisa de grinaldas e de festões.

O diabo de hoje já não tem nenhum efeito moralista. Desmoralisou-se por completo. Aparece, porém, ainda, como uma força que só os corajosos vão procurar, nessa ânsia de resolver o problema econômico da vida. É o diabo de uma outra época.

A ânsia de encontrar o ouro criou a alquirma, ânsia de acertar a milhar no jogo do bicho criou o inesperado: a realidade confundida teimosamente com a lenda.

Procurado, em vão, por todos os recantos e encruzílliadas, um diabo que já não mete medo nem provoca receios, sofre talvez, aí, a sua última desmoralização.

Em Santo Amaro das Salinas, o velho Santo Amato dos Viveiros de peixes e dos mocambos, à meia noite em ponto, numa encruzilhada, está parada uma mulher, rezando, para que o diabo apareça e diga-lhe a milhar do bicho, dando assim solução para todo um mundo de misérias em que vive.

Na ponta da rua, lá ao longe, surge um vulto preto, totalmente preto, onde os olhos brancos se realçam e se destacam. Aproxima-se, aproxima-se, e vai passando sem dizer uma única palavra.

A mulher enche-se mais de coragem, avança até ele e fala:

- Diga a milhar, diga!

E a figura do homem que ela julgava o diabo explica-se, deixando-a desapontada:

- Minha senhora eu não sou o diabo, não! Eu sou é carvoeiro que vem do serviço!

A realidade é confundida grosseiramente com a lenda e há assim a desmoralização completa de todos os diabos que ainda amedrontam tolos e crentes.

Fonte: Jangada Brasil  - (RIBEIRO, Chagas. Em Brasil Açucareiro).