quinta-feira, 24 de janeiro de 2013
Buda do espaço
Ler Buda, nazistas e espaço no título acima parece roteiro de filme ruim e surreal, embora a história seja bastante verdadeira. Pesquisadores descreveram a descoberta de uma estátua de Buda na revista Meteoritics & Planetary Science. Até aí, tudo bem. O que ela tem de interessante? Aparentemente, o pesado objeto foi trazido da fronteira entre a Sibéria e a Mongólia para a Europa pelos nazistas. Também, aparentemente, a estátua foi esculpida a partir de um meteorito que caiu provavelmente há 10.000 anos na Terra.
Em uma expedição ao Tibete entre 1938 e 1939, o zoólogo e etnologista Ernst Schäfer, enviado à região pelo partido nazista para encontrar as raízes (origens) arianas, trouxe o “homem de ferro” (apelido que os pesquisadores deram à estátua) à Alemanha. Em seguida, o objeto passou para as mãos de um proprietário privado.
O “Buda do espaço” é de idade desconhecida. As melhores estimativas colocam o surgimento da estátua em algum momento entre os séculos VIII e X. A escultura retrata um homem, provavelmente um deus budista, com as pernas dobradas, segurando algo na mão esquerda. Em seu peito há uma suástica budista, um símbolo de sorte comum na cultura oriental que decora muitas estátuas hindus e budistas, que mais tarde foi usado pelo partido nazista da Alemanha.
“Pode-se especular que o símbolo da suástica na estátua foi uma motivação potencial para trazer o artefato para a Alemanha”, disseram os pesquisadores.
A identidade do homem esculpido não é totalmente clara, mas os pesquisadores suspeitam que ele pode ser o deus budista Vaisravana, também conhecido como Jambhala. Vaisravana é o deus da riqueza ou da guerra, muitas vezes retratado segurando um limão (símbolo de riqueza) ou saco de dinheiro na mão.
O homem de ferro tem um objeto não identificado em sua mão. A estátua tem cerca de 24 centímetros de altura e pesa cerca de 10,6 kg.
Meteorito e religião
O cientista da Universidade de Stuttgart (Alemanha) Elmar Bucher e seus colegas analisaram a estátua em 2007, quando o proprietário lhes permitiu levar cinco amostras minúsculas do objeto. Em 2009, a equipe pode analisar amostras maiores do interior da estátua, que é menos propenso ao desgaste ou contaminação por manipulação humana do que o exterior. Eles descobriram que a estátua foi esculpida a partir de uma classe rara de rochas espaciais, conhecida como meteoritos ataxite. Estes meteoritos são feitos principalmente de ferro e têm um nível elevado de níquel.
O maior exemplo conhecido desse tipo de rocha, o meteorito Hoba da Namíbia, pode pesar mais de 60 toneladas. Uma análise química das amostras do homem de ferro revelou que ele vem de outro meteorito ataxite, o Chinga. Essa rocha espacial caiu na Terra entre 10.000 e 20.000 anos atrás, perto da fronteira entre a Sibéria e Mongólia. Conforme atingiu o solo, ele se fragmentou em diversos pedaços, e apenas dois mais pesados do que 10 kg eram conhecidos antes da nova análise. A estátua se tornou a terceira peça grande desse meteorito, com 10,6 kg.
Segundo Bucher, muitas culturas utilizavam meteoritos de ferro para fazer punhais e até joias. Cientistas suspeitam que outros objetos venerados podem ter origens extraterrestres semelhantes, incluindo a Pedra Negra, em Meca, Arábia Saudita, mas é difícil verificar essas suposições porque os objetos nunca foram completamente analisados cientificamente.
Também, nenhum desses fragmentos de meteoritos foi supostamente esculpido por motivos religiosos. “Metais de meteoritos estão associados a uma série de culturas antigas. Há relatos de colares egípcios feitos com metal de meteoros, mas não há nenhuma evidência de que os egípcios tinham conhecimento de sua procedência extraterrestre”, explica Matthew Genge, do Imperial College de Londres (Reino Unido).
Sendo assim, afirma Bucher, apesar da adoração ao meteorito ser comum entre culturas antigas, a escultura de Buda é única. “A estátua do homem de ferro é o único exemplo conhecido de uma figura humana esculpida a partir de um meteorito, o que significa que nada pode ser comparado a ela para avaliar seu valor”, afirma.
Mas esse valor é alto, com certeza. “Apenas suas origens já valorizaram a estátua em US$ 20.000 (cerca de R$ 40 mil), no entanto, se a nossa estimativa da sua idade estiver correta e ela tiver quase mil anos de idade, seu valor pode ser inestimável”, opina Bucher.
E porque será que alguém resolveu esculpir tal estátua religiosa nesse material? Os especialistas acreditam que há uma boa chance dos povos antigos terem se maravilhado com o fenômeno de meteoritos caindo do céu.
“Não há nenhuma evidência definitiva de que povos antigos testemunharam e reverenciaram quedas de meteorito”, diz Genge. “No entanto, as chances são boas. Há tantas testemunhas de quedas modernas que os povos antigos também devem tê-las presenciado. E tais eventos especiais que devem ter atraído admiração e especulação”.
Fontes: MSN, NewScientist, MedicalDaily
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