"Vez por outra circulava a notícia apressada de que desaparecera aquela crianã da rua da Medalha, ou a outra da rua da Tesoura, da estrada do Carro ou da rua da Viração, da rua da Glória ou do Jaguaribe — e era de notar o espanto geral que a novidade despertava entre a gurizada atenta na marcha desses acontecimentos tão desagradáveis." (Ademar Vidal. Lendas e superstições).
Ele costuma sair à noite ou ao fim da tarde, na hora do crepúsculo, aproveitando o horário de saída das escolas. Seu aspecto pode variar de região para região. Algumas vezes é velho, sujo, sofre de hanseníase e tem o corpo coberto de chagas. Pode, também, ser alto, magro, pálido e com a barba por fazer. Às vezes, carrega um saco. Procura por crianças, atraindo-as com o intuito de raptá-las, extraindo-lhes, a seguir, o fígado.
Segundo a crença popular, o sangue é produzido no fígado. Quando este não funciona bem, o sangue apodrece, causando a lepra. A cura estaria no consumo do órgão sadio. Mas somente o fígado infantil teria pureza e força suficientes para aliviar o sofrimento dos hansenianos. E sempre haveria alguém disposto a pagar qualquer preço por tão poderoso e raro lenitivo.
É mito que ocorre em todo o Brasil, convergindo para outras figuras do ciclo do pavor infantil, como o lobisomem, o negro velho e o homem do saco. Segundo a versão registrada por Ademar Vidal, referente à Paraíba, a fim de não cometer injustiças, o papa-figo restringia sua caça apenas aos meninos mal-comportados, desobedientes, teimosos ou chorões.
Fonte: Jangada Brasil.
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Referências: Araújo, Alceu Maynard. Folclore nacional. São Paulo, Edições Melhoramentos, 1964, v.1, p.424; Cascudo, Luís da Câmara. Dicionário do folclore brasileiro. Rio de Janeiro, Instituto Nacional do Livro, 1954 | 9ª edição: Rio de Janeiro, Ediouro, sd; Cascudo, Luís da Câmara. Geografia dos mitos brasileiros. 2ª ed. São Paulo, Global Editora, 2002, p.239-243, 383-384; Corso, Mário. Monstruário; inventário de entidades imaginárias e de mitos brasileiros. 2ª ed. Porto Alegre, Tomo Editorial, 2004, p.139-140; Freire, Gilberto. Assombrações do Recife velho; algumas notas históricas e outras tantas folclóricas em torno do sobrenatural no passado recifense. 5ª ed. Rio de Janeiro, Topbooks, 2000, p.97-98; Freire, Gilberto. Casa grande e senzala. Rio de Janeiro, 1933, p.368; Vidal, Ademar. Lendas e superstições; contos populares brasileiros. Rio de Janeiro, Empresa Gráfica O Cruzeiro, 1950, p.125-126.
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